O presidente mais velho do mundo vence o oitavo mandato consecutivo, batendo recordes apesar dos protestos mortais

Paul Biya, presidente de Camarões há mais de quatro décadas, voltou a conquistar as urnas aos 92 anos de idade, ampliando seu recorde como o líder em exercício mais velho do planeta. O anúncio foi feito pelo Conselho Constitucional do país em 27 de outubro, confirmando mais um mandato de sete anos à frente do poder.

Natural da vila de Mvomeka’a, Biya iniciou sua trajetória política ainda nos anos 1970, quando assumiu o cargo de primeiro-ministro em 1975. Em 1982, após a renúncia de Ahmadou Ahidjo, ele se tornou presidente e nunca mais deixou o posto. Desde então, venceu sucessivas eleições — quase todas com vitórias esmagadoras — representando o Movimento Democrático do Povo Camaronês (RDPC), partido que domina a política nacional há décadas.

Na votação mais recente, realizada em 12 de outubro, a comissão eleitoral anunciou que Biya recebeu 53,66% dos votos. Seu principal adversário, Issa Tchiroma Bakary, ex-ministro do Trabalho que rompeu com o governo para se juntar à oposição, obteve 35,19%. O resultado, contudo, gerou imediata onda de protestos em várias regiões do país, alimentando denúncias de fraude eleitoral e exigências por maior transparência no processo de contagem.

Paul Biya afirma ter sido eleito pela oitava vez

Confrontos entre manifestantes e forças de segurança ocorreram em cidades como Douala e Garoua. De acordo com o jornal The Express, pelo menos quatro pessoas morreram, incluindo uma professora atingida por bala perdida, e mais de cem foram presas durante os atos. Autoridades camaronenses confirmaram que os detidos poderão responder perante tribunais militares por acusações graves, como incitação à rebelião e insurreição.

A tensão aumentou após o Conselho Constitucional rejeitar as contestações apresentadas pela oposição. Bakary, líder da Frente Nacional de Salvação dos Camarões, declarou-se o verdadeiro vencedor, afirmando ter obtido 54,8% dos votos contra 31,3% de Biya. Em discurso transmitido pela imprensa local, ele acusou o governo de manipular o resultado e classificou a decisão do Conselho como “cúmplice de uma violação de confiança”.

Manifestantes ergueram barricadas em chamas em Garoua

Enquanto isso, na região norte do país — uma das mais pobres e reduto político de Bakary —, grupos de jovens expressaram indignação em carta ao governador local. O documento dizia que a população votou massivamente na oposição, mas o governo teria “roubado a vitória”. A mensagem terminava com um aviso sombrio: “É melhor se unir ao Boko Haram em Sambisa, na Nigéria, do que viver mais sete anos assim. Se nos impedirem, vocês e os militantes do RDPC pagarão com sangue em Maroua.”

O partido governista reagiu com veemência. Em comunicado oficial, classificou as alegações de Bakary como uma “fraude grotesca e inaceitável em um Estado de direito”. O ministro da Administração Territorial, Paul Atanga Nji, declarou em rede nacional que as autoridades não tolerariam a violência e prometeu punição exemplar aos envolvidos nos distúrbios.

Um apoiador usando uma foto de Bakary em um comício no início deste mês

Mesmo cercado por questionamentos sobre sua saúde e sua capacidade de governar, Biya segue mantendo firme controle sobre o país. Conhecido por passar longos períodos na Europa — especialmente na Suíça —, o presidente raramente faz aparições públicas, delegando grande parte de suas funções a assessores e familiares. Ainda assim, ele rejeita qualquer especulação sobre uma eventual renúncia.

Em sua última declaração antes das eleições, Biya afirmou que o mundo atravessa “um ambiente internacional cada vez mais difícil” e que Camarões precisa de estabilidade para enfrentar os desafios futuros. “Numa situação como essa, não posso me esquivar da minha missão”, declarou.

Com a nova vitória, o líder camaronês deve permanecer no cargo até 2032, quando terá 99 anos. Caso conclua o mandato, completará meio século à frente do país — um feito raro mesmo entre os governos mais longevos do planeta.

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