Diretor explica por que fez atores terem sexo real e não coreografado em seu filme que foi banido após estreia em Cannes

Um dos filmes mais polêmicos exibidos no Festival de Cannes em 2015 foi “Love”, dirigido pelo cineasta argentino-francês Gaspar Noé. Conhecido por seu estilo provocador, o diretor decidiu levar o realismo a um nível raramente visto no cinema: incluir cenas de sexo não coreografadas e totalmente reais entre os atores.

A proposta de Noé não era apenas chocar, mas também questionar os limites do que é aceitável nas telas. Diferente da maior parte dos filmes eróticos ou convencionais, em que truques de câmera, próteses e ângulos bem pensados criam a ilusão de intimidade, em “Love” tudo aconteceu diante das câmeras sem simulações.

O longa conta a história de um jovem americano que vive em Paris e se envolve com uma mulher emocionalmente instável. O relacionamento, já turbulento, ganha um terceiro elemento quando o casal decide abrir espaço para uma nova parceira. A narrativa explora amor, paixão, possessividade e os conflitos inevitáveis dessa dinâmica.

O elenco principal foi composto por Karl Glusman, Aomi Muyock e Klara Kristin. Eles aceitaram participar das cenas reais que geraram repercussão internacional. Noé, no entanto, revelou que inicialmente gostaria de ter Monica Bellucci e Vincent Cassel como protagonistas. O casal recusou o convite, e o diretor seguiu com atores menos conhecidos, mas dispostos a embarcar no projeto.

Uma das sequências mais comentadas foi a de uma ejaculação filmada em 3D, o que surpreendeu o público de Cannes e contribuiu para o debate sobre os limites da representação sexual no cinema. O filme acabou sendo banido em países como a Rússia e recebeu classificação etária mais rígida na França, passando de 16 para 18 anos após campanhas de grupos que pediam restrições.

Ao ser questionado sobre sua escolha artística, Noé declarou ao jornal Irish Examiner: “Nos filmes adultos você nunca vê sentimentos, nunca há beijos, conversas sobre gravidez ou menstruação. É como se fosse um universo separado, sem relação com a vida real. Eu quis representar no cinema algo que considero importante e que, por razões comerciais, nunca é mostrado da forma adequada.”

Em entrevista ao The Guardian, ele reforçou seu ponto de vista crítico: “Todos os governos gostam de controlar a sexualidade das pessoas. Quem tem o poder o mantém porque consegue castrar a população. Há algo de caótico no sexo. Quando as pessoas começam a transar, não existem mais classes sociais.”

A decisão de Gaspar Noé consolidou “Love” como um dos filmes mais controversos da década, misturando arte, erotismo e provocação em uma obra que dividiu plateias e levantou discussões sobre censura e liberdade criativa.

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