Algo há 900.000 mil anos fez 99% da vida humana ser extinta

Por volta de 900.000 anos atrás, os antepassados dos seres humanos passaram por um dos períodos mais críticos de toda a história evolutiva da espécie. Estudos recentes indicam que a população global desses hominídeos foi reduzida a aproximadamente 1.280 indivíduos em idade reprodutiva e permaneceu nesse número extremamente baixo por cerca de 117.000 anos. Esse evento dramático é conhecido como “gargalo genético” e quase levou à extinção completa dos ancestrais do ser humano moderno.

A descoberta foi feita com base em um método computacional inovador chamado FitCoal, sigla para “processo de coalescência de tempo infinitesimal rápido”. Essa técnica permitiu que cientistas reconstruíssem a história demográfica da humanidade analisando mais de 3.000 sequências genômicas modernas. O resultado mostrou um colapso populacional entre aproximadamente 930.000 e 813.000 anos atrás — um período em que a população chegou ao ponto mais baixo já registrado.

De acordo com os pesquisadores, as causas desse evento estão ligadas às mudanças climáticas extremas que ocorreram nessa época. Foi um período marcado por intensas glaciações, quedas acentuadas de temperatura e longas secas, que reduziram drasticamente a disponibilidade de alimentos e habitats. Muitas espécies que serviam de fonte de sustento desapareceram, e a luta pela sobrevivência se intensificou de forma dramática.

Perda genética e consequências evolutivas

A redução populacional teve um impacto profundo na diversidade genética da espécie. Estima-se que cerca de 65,85% da variabilidade genética humana tenha se perdido durante o gargalo. Com tão poucos indivíduos, o acervo genético ficou empobrecido, tornando a população mais suscetível a doenças e mutações desfavoráveis. Em situações assim, basta um evento adicional — como uma epidemia ou catástrofe ambiental — para que a extinção total ocorra.

Apesar do cenário extremamente adverso, os dados também apontam que esse período foi determinante para a formação da espécie humana moderna. Durante o gargalo genético, acredita-se que ocorreu a fusão de dois cromossomos ancestrais, originando o cromossomo 2, presente em todos os seres humanos atuais. Essa fusão cromossômica é considerada um marco na diferenciação evolutiva dos hominídeos.

A pressão seletiva causada pelas condições extremas também pode ter favorecido indivíduos com maior capacidade de adaptação. A sobrevivência passou a depender não apenas da força física, mas da inteligência, da cooperação social e da capacidade de planejar. Essas pressões podem ter contribuído para mudanças importantes no desenvolvimento do cérebro humano.

Uma lacuna no registro fóssil

Um dos grandes enigmas para os paleoantropólogos sempre foi a escassez de fósseis humanos entre o início e o meio do Pleistoceno. A descoberta desse gargalo populacional ajuda a explicar essa lacuna. Com um número tão reduzido de indivíduos, havia menos assentamentos e, consequentemente, menos chances de restos serem preservados como fósseis.

Com poucos grupos humanos espalhados pelo planeta e recursos escassos, a dispersão geográfica era limitada. Os pequenos bandos precisavam se adaptar constantemente às mudanças do ambiente, o que provavelmente reduziu ainda mais as chances de preservação arqueológica. A escassez de evidências desse período não significa ausência da espécie, mas sim sua presença em número extremamente reduzido e em regiões limitadas.

A recuperação populacional começou cerca de 813.000 anos atrás, quando as condições climáticas se tornaram mais amenas. Os pesquisadores acreditam que a domesticação do fogo foi um dos fatores decisivos para essa retomada. O controle do fogo permitiu aquecimento em períodos frios, proteção contra predadores e a possibilidade de cozinhar alimentos, aumentando o valor nutricional das dietas e melhorando a sobrevivência dos grupos humanos.

Impactos duradouros na linhagem humana

O gargalo genético de 900.000 anos atrás teve efeitos profundos que moldaram o curso da evolução humana. A intensa pressão ambiental e a baixa diversidade genética podem ter acelerado a seleção de traços que hoje são característicos da nossa espécie. Entre eles, destaca-se a inteligência, a capacidade de criar ferramentas, a cooperação em grupo e a habilidade de se adaptar a diferentes ambientes.

Os pesquisadores também levantam a hipótese de que esse período foi crucial para a divergência entre diferentes ramos da linhagem humana. A redução populacional e a posterior recuperação teriam contribuído para a separação dos grupos ancestrais que deram origem aos neandertais, aos denisovanos e aos Homo sapiens. Essas ramificações genéticas explicam a diversidade de espécies humanas que existiram ao longo da história.

Embora o número de indivíduos fosse pequeno, esse grupo conseguiu resistir a condições extremas por mais de 100.000 anos. Essa resistência possibilitou que os descendentes desses sobreviventes colonizassem diferentes regiões do planeta, desenvolvessem tecnologias e dessem origem à nossa espécie.

As pesquisas sobre esse evento continuam avançando, ajudando a esclarecer como mudanças climáticas globais e pressões ambientais extremas moldaram os primeiros capítulos da história humana. O episódio de quase extinção ocorrido há 900.000 anos não foi apenas um ponto crítico na nossa trajetória, mas também um divisor evolutivo que definiu os caminhos biológicos e genéticos da humanidade.

Esse Algo há 900.000 mil anos fez 99% da vida humana ser extinta foi publicado primeiro no Misterios do Mundo. Cópias não são autorizadas.