Secas mais frequentes e intensas diminuem capacidade de estocar carbono da Amazônia
As secas na Amazônia aumentaram em duração e alcance nas últimas décadas. Junte isso ao aumento de temperaturas das ondas de calor dos últimos anos, o desmatamento e o uso do fogo para abrir espaço na mata e você tem um caso intenso de estresse hídrico nas árvores da região que comporta a maior bacia hidrográfica do mundo.
Isso não significa só que as árvores da floresta amazônica estão sentindo mais sede. Como os humanos, elas precisam de água para realizar várias funções, como estocar carbono.
Agora, as secas mais intensas e frequentes, causadas pelas mudanças climáticas, estão afetando a capacidade de armazenamento de carbono dessas plantas – essencial para não piorar mais ainda a crise climática.
Quem percebeu esse impacto das secas nas árvores da região amazônica foram os pesquisadores do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e do Laboratório de Sistemas Tropicais e Ciências Ambientais (Trees, na sigla em inglês que se escreve da mesma forma que “árvore” na língua) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Além de afetar a capacidade de estocar carbono das árvores, essas secas impactam o ciclo da água e a capacidade das plantas de fazer os recursos hídricos recircularem pela região.
Mais de metade sofre com estresse hídrico
Alguns resultados do projeto de pesquisa, divulgados pela Agência FAPESP, foram apresentados numa mesa-redonda durante a 77ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, a SBPC, no campus de Recife da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
Entre 50% e 60% das chuvas na Amazônia vem da água que evaporou no oceano e chegou ao continente, onde ela é capturada pela floresta, que a lança de volta para a atmosfera, pelo processo de evapotranspiração. Assim, a água é distribuída pelo bioma amazônica e por várias outras regiões do Brasil e da América do Sul.
Porém, essa circulação regional da água pela floresta pode sofrer com a redução das chuvas e o aumento das temperaturas observados nas últimas quatro décadas na Amazônia. Esse impacto não se resume ao ciclo da água, mas também atinge as demandas metabólicas das árvores, que acabam perdendo mais carbono no processo de respiração.
Esse aumento de temperaturas também pode piorar a capacidade de fotossíntese das árvores e até causar danos estruturais nas folhas. Tudo isso pode se traduzir em um aumento na mortalidade dessas plantas. “Temos feito estudos e medições de campo que mostram que há grandes árvores morrendo durante a estação seca”, disse Liana Anderson, do Cemaden, à FAPESP.
Se essas árvores, que pegam a água do solo da floresta e transpiram para a atmosfera, morrem, o sistema de ciclagem da água sofre, e isso pode influenciar o ciclo hidrológico não só da Amazônia, mas de outras regiões que dependem dela para receber suas chuvas.
A maioria dos dados apresentados na SBPC fazem parte de estudos em andamento. Os pesquisadores do Trees perceberam um aumento da duração da estação seca na Amazônia entre 2000 e 2023, e isso se reflete nos dados de estresse hídrico. Em 2023, 61% da região sofreu com essa falta de oferta de água. As áreas que mais sofreram ficavam perto das bordas da floresta.
Um dos estudos dos pesquisadores do Inpe mostrou que 100 milímetros de déficit de chuva durante uma estação seca foram suficientes para que, em 2005, uma região da Amazônia perdesse 100 toneladas de carbono por hectare.
E os cientistas que encontraram esses dados acreditam que eles podem piorar: a cada grau de aumento de temperatura média global, os estoques de carbono da floresta diminuem em 6%.
A floresta amazônica como a conhecemos só existe por causa da maior bacia hidrográfica do mundo, onde ela fica localizada. Para manter a floresta funcionando com seu estoque gigante de carbono e seu papel no ciclo da água, é essencial combater as áreas do problema que ainda podem ser impedidas: o desmatamento e os incêndios criminosos.
Millennials, Boomers, Gen Z… Faz sentido rotular as pessoas assim?
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