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Curiosidades

Quem foi Johanna Döbereiner – e como sua pesquisa economiza R$ 10 bilhões ao Brasil todos os anos

A cientista Johanna Döbereiner transformou profundamente a agricultura brasileira. Suas descobertas sobre bactérias capazes de fixar o nitrogênio do ar dispensaram o uso de adubos químicos em culturas como a soja, tornando o país uma potência agrícola sustentável e economicamente competitiva. 

Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), os resultados práticos de seu trabalho representam uma economia anual de até US$ 2 bilhões em fertilizantes nitrogenados, o equivalente a mais de R$ 10 bilhões por ano.

Graças às pesquisas conduzidas por Johanna a partir da década de 1950, o Brasil tornou-se o maior produtor mundial de soja – e o fez seguindo um caminho oposto ao das nações desenvolvidas, ao apostar na biotecnologia natural em vez de depender de insumos industriais.

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Döbereiner dedicou a vida a estudar as bactérias fixadoras de nitrogênio (BFN), microrganismos que vivem nas raízes das plantas e transformam o nitrogênio atmosférico – um gás abundante, mas inutilizável pelas plantas em sua forma natural – em compostos assimiláveis. Esse processo, conhecido como fixação biológica de nitrogênio (FBN), permite que culturas como a soja se desenvolvam sem necessidade de fertilizantes artificiais.

Na prática, a técnica consiste em inocular as sementes com bactérias específicas, como as do gênero Rhizobium. Quando a planta germina, forma nódulos nas raízes que funcionam como pequenas “usinas” biológicas, capazes de extrair o nitrogênio do ar e transformá-lo em nutriente.

Foi uma revolução. Na década de 1960, quando a agricultura mundial apostava nos fertilizantes químicos, Johanna contrariou a tendência.

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“Naquela época, ir contra a adubação química era quase um sacrilégio”, disse a pesquisadora em entrevista à Veja em 1996. “Só muito tempo depois vi que nossas pesquisas não só permitiam uma produção mais barata, como também mais ecológica, porque não poluíam os rios nem o solo.”

A aplicação da técnica se tornou essencial para o programa brasileiro de melhoramento da soja, iniciado em 1964. Desde então, o país aboliu o uso de adubos nitrogenados nessa cultura, o que garantiu ao Brasil uma vantagem econômica e ambiental duradoura.

Trajetória

Johanna nasceu em 28 de novembro de 1924, em Aussig, na antiga Tchecoslováquia (hoje República Tcheca e Eslováquia). Sua juventude foi marcada pela Segunda Guerra Mundial.

Filha do químico Paul Kubelka e de Margarethe Kubelka, viveu perseguições políticas e familiares: os pais, de origem alemã, se opuseram ao regime nazista e ajudaram judeus a fugir. O pai foi preso, e a mãe acabou morrendo em um campo de concentração tcheco em 1945, após o fim da guerra.

Após perder a mãe, Johanna trabalhou como operária rural na Alemanha para sustentar os avós, que morreram no mesmo ano. Foi nesse período, convivendo com o trabalho no campo, que despertou seu interesse pela agricultura. 

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Em 1947, ingressou no curso de Ciências Agrárias na Universidade de Munique, onde conheceu o futuro marido, o veterinário Jürgen Döbereiner. Formou-se em 1950 com um trabalho sobre bactérias fixadoras de nitrogênio – tema que definiria toda a sua carreira científica.

Johanna avaliando experimentos de vegetação em sua casa.Arquivo pessoal/Reprodução

Em 1950, recém-formada, Johanna imigrou para o Brasil a convite do pai, que havia se estabelecido no país como físico-químico. Ela e Jürgen chegaram ao Rio de Janeiro com os diplomas nas mãos e a esperança de reconstruir a vida após os anos de guerra.

Foi contratada pelo Serviço Nacional de Pesquisas Agronômicas do Ministério da Agricultura, órgão precursor da Embrapa, em Seropédica (RJ).

Ela mesma admitia que, ao chegar, pouco sabia de prática laboratorial. “Eu não sabia nada, nunca tinha trabalhado em laboratório”, contou em entrevista. “Foi preciso mais de um ano para aprender o bê-á-bá da microbiologia.”

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A dedicação logo deu frutos. Johanna descobriu novas espécies de bactérias fixadoras de nitrogênio em gramíneas tropicais, como a cana-de-açúcar, que prosperavam em solos ácidos, comuns no Brasil. O insight veio de uma observação simples: seu gramado continuava verde mesmo sem fertilização, o que a fez suspeitar da presença de microrganismos benéficos nas raízes.

A cientista dizia que não havia glamour na rotina da pesquisa. “Não tem nada de mais na vida de um cientista. É rotina como outra qualquer. Só que meu escritório é um laboratório. Sou uma camponesa no laboratório”, afirmava.

A oportunidade de aplicar suas descobertas em larga escala surgiu no início da década de 1960, quando Johanna foi convidada a integrar a Comissão Nacional da Soja, criada para aumentar a produtividade da leguminosa. A maioria dos especialistas defendia o uso de fertilizantes químicos, mas Johanna sustentou que as bactérias poderiam substituir completamente o adubo nitrogenado.

Suas ideias prevaleceram, e a adoção da FBN transformou a agricultura brasileira. A soja passou a crescer de forma autossustentável, reduzindo custos de produção e impactos ambientais.

Graças a descoberta, o Brasil passou a liderar o cultivo de soja de baixo custo e alta produtividade, consolidando-se como potência exportadora. Além da soja, Johanna também estudou bactérias associadas a outras culturas, como o feijão, o milho e a cana-de-açúcar – entre elas, a espécie Beijerinckia fluminensis, identificada por ela no Rio de Janeiro.

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Ao longo de mais de cinco décadas de carreira, Johanna publicou mais de 500 artigos científicos, descreveu nove novas espécies de bactérias diazotróficas e orientou dezenas de pesquisadores que hoje ocupam posições de destaque na Embrapa e em universidades do país.

Recebeu mais de 20 prêmios científicos e, segundo a Faperj, foi indicada ao Prêmio Nobel de Química em 1997 por sua contribuição ao desenvolvimento de uma agricultura de baixo custo e baixo impacto ambiental, feita em países tropicais. 

Embora não tenha recebido o prêmio, a indicação foi vista como uma vitória simbólica de uma ciência feita fora do eixo euro-americano.

 “Tenho ideias para mais 50 ou 60 anos. Não vou viver tudo isso. Temos que trocar informações e conhecimentos. A ciência precisa disso”, disse, já no auge da sua carreira. 

Seu legado também está registrado nas espécies Glucanacetobacter johannae e Azospirillum doebereinerae, nomeadas em sua homenagem.

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Naturalizada brasileira em 1956, Johanna sempre declarou amor pelo país que a acolheu. “Eu sabia que estava sem pátria e vim aqui procurar uma nova pátria”, disse ao O Globo, em 1979. 

“Eu teria condições, hoje em dia, de escolher qualquer parte do mundo para viver. Teria facilidade em arranjar empregos equivalentes ou melhores nos EUA, na Austrália, na Europa. Recebi convites para trabalhar em outros países, mas não troco o Brasil por nenhum outro. É o país que escolhi, estou muito bem aqui e não o deixaria nem para ter vantagens em outros lugares”, acrescentou.

Manteve uma rotina simples e discreta. Gostava de tricotar, ouvir música clássica e conversar com os colegas sobre ciência e família. 

Nos anos 1990, Johanna começou a apresentar sinais de Alzheimer, mas não se afastou do laboratório. Continuou trabalhando na Embrapa Agrobiologia, em Seropédica, até os últimos meses de vida. Em 1996, sofreu a perda do filho mais novo, Lorenz, assassinado em São Paulo. Mesmo abalada, permaneceu ativa na pesquisa.

Johanna Döbereiner morreu em 5 de outubro de 2000, aos 75 anos, vítima de broncopneumonia. Mais de duas décadas depois, seu nome segue vivo na ciência e na agricultura. As tecnologias que ela ajudou a desenvolver continuam poupando bilhões de reais ao país e reduzindo os impactos ambientais da produção de alimentos.

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augustopjulio

Sou Augusto de Paula Júlio, idealizador do Tenis Portal, Tech Next Portal e do Curiosidades Online, tenista nas horas vagas, escritor amador e empreendedor digital. Mais informações em: https://www.augustojulio.com.