O quadro tão assustador que fazia as pessoas se benzerem quando o viam
Por cerca de 60 anos – entre 1928, quando morreu, e 1968 –, a obra do artista alemão Franz von Stuck passou despercebida, se não esquecida. Stuck era um mestre do simbolismo, movimento artístico que valoriza o metafórico em vez do literal.
Entre os temas mais recorrentes das suas obras estavam a sedução, o sexo e a relação ambígua entre homens e mulheres. Em O Pecado (1893), por exemplo, uma Eva despida por trás do roupão é envolvida por uma cobra que olha diretamente para o espectador. Em O Beijo da Esfinge (1895), uma criatura com corpo de leão e cabeça de mulher beija um viajante desavisado, levando-o à ruína.
Mas não havia muita sedução em Lúcifer (1890), seu trabalho mais famoso e também o mais sombrio e misterioso. Como o nome sugere, a pintura retrata Lúcifer, o anjo expulso do céu, nu e com um corpo forte e musculoso, porém bastante humano. Ele está sentado em um ambiente escuro, com o braço esquerdo apoiado em uma das pernas, a mão segurando o rosto e os olhos, de íris brancas como o gelo polar, mirando fixamente o público.
O braço direito de Lúcifer está aberto em uma posição estranha, como se apoiado em algo. Não fica óbvio à primeira vista, mas, sabendo que a figura é Lúcifer, e também olhando os rascunhos que Stuck deixou da obra, é possível entender que ele na verdade está abraçando uma de suas asas. Mais à direita no quadro está uma fonte de luz no formato de lua crescente. Ela parece ser o reflexo de algo, embora a pintura não deixe claro o quê.
O aspecto mais proeminente da obra é o olhar de Lúcifer. Vidrado em nós, é como se ele olhasse através da tela e convidasse a si mesmo para o nosso mundo. Na mitologia cristã, Lúcifer é um símbolo do desafio, do orgulho, da rebeldia e da ambição — e de como todas essas coisas podem resultar em destruição. No entanto, no quadro de von Stuck, ele não aparece como uma criatura arruinada ou punida, e sim em um momento de contemplação.
Essa composição, somada à figura musculosa (talvez heróica?) do personagem, sugere uma visão mais complexa sobre o diabo, como uma criatura em conflito consigo mesma, assolada por sentimentos como orgulho, arrependimento e ambição. É, de certa forma, uma analogia com o homem moderno.
O sinal da cruz
Em 1891, Ferdinand I, príncipe da Bulgária, visitou Munique e comprou o quadro de von Stuck. De volta ao seu país, Ferdinand colocou o quadro em seu gabinete. Diz a lenda que, ao ver a obra, os ministros do gabinete ficaram absolutamente aterrorizados, recorrendo ao sinal da cruz como forma de proteção contra o quadro maldito.
O ato virou tradição: os funcionários do gabinete, ao passarem pela obra, sempre se benziam com o sinal da cruz. Havia algo de irônico nisso: o quadro era só um quadro, mas inspirava medo o suficiente para que humanos reais sentissem um perigo real. Estaria então o diabo em todos nós? Diz-se que von Stuck adorava o fato de que as pessoas reagiam dessa forma ao seu quadro e contava para todo mundo.
Em 1930, a obra passou a fazer parte do acervo do Museu Nacional da Bulgária. Hoje, está na Galeria Nacional de Arte Estrangeira, caso você queira ir lá trocar olhares com o diabo e se benzer também. Já o pintor morreu em 1928, com sua popularidade decaindo bastante nas décadas seguintes por sua obra ser considerada antiquada — o fato de ele ser um dos pintores favoritos de Hitler também não ajudava.
Franz von Stuck só foi redescoberto em 1968, quando a cidade de Munique reabriu a Villa Stuck, mansão que o pintor projetou para ser sua residência, estúdio e galeria. A casa sofreu danos durante a Segunda Guerra Mundial, o que fez com que fosse doada para a prefeitura. Em 1992, foi oficialmente transformada em museu.
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