Músicas geradas por IA invadem plataformas de streaming e levantam debate
Em junho deste ano, a Deezer, plataforma de streaming de música presente em mais de 180 países, revelou que 18% de todo o conteúdo musical enviado diariamente ao serviço é 100% gerado por Inteligência Artificial. O que, na prática, significa que mais de 20 mil faixas do seu catálogo são fruto desse tipo de tecnologia.
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Embora impressionante, o número não é um caso isolado, já que o uso de IA vem operando uma revolução não só no mercado de música, mas em todo o setor audiovisual, a ponto de até festivais de cinema especializados terem sido criados.
Diante disso, em outubro do ano passado, a empresa assinou a declaração global sobre o treinamento de IA, assumindo uma posição contra o uso não licenciado de obras criativas para treinar IA generativa. E, em junho deste ano, lançou um sistema que “dedura” álbuns que incluem faixas totalmente sintéticas, tornando a procedência desses conteúdos mais transparente para o público.
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Uso de IA traz impacto e debates à indústria
Mais do que uma simples novidade, a proliferação de músicas geradas por IA na indústria vem levantando debates, que envolvem desde o treinamento de seus modelos por meio de obras protegidas por direitos autorais até o impacto em grande escala dessas faixas na receita de criadores.
Uma discussão que, inclusive, conta ainda com um aspecto ainda mais controverso e subjetivo ao questionar se a própria existência dessas músicas sintéticas pode ser considerada uma forma de arte.
Segundo a Deezer, a maioria das músicas de IA que chegam à plataforma sequer são ouvidas pelos usuários, mas contribuem para a diluição do catálago e para as tentativas de fraude de seu sistema, já que possuem cerca de 70% de execuções falsas.
Nesses casos, assim como em qualquer situação que detecta manipulação de plays, a empresa exclui as reproduções dos cálculos de repasse de royalties, embora as transmissões legítimas das canções gerem aos seus responsáveis a mesma remuneração que a de outros artistas.
“Esta é uma questão que estamos levantando na indústria: devemos considerar essas criações no mesmo nível de obras 100% humanas?”, questionou Aurelien Herault, Chief Innovation Officer da Deezer ao Canaltech. “Ainda não temos uma resposta clara — trata-se mais de uma reflexão coletiva e contínua. Não estamos combatendo as obras criadas por IA em si, mas sim o abuso e o spam de catálogo, onde a IA atualmente desempenha um papel significativo”.
Por esse motivo, a Deezer não exclui canções geradas por IA da sua plataforma, mas garante não acrescentar essas faixas nas recomendações algorítmicas e editoriais do serviço.

Herault, inclusive, não descarta a possibilidade de expandir ainda mais a ferramenta de IA da Deezer, quem sabe estendendo o sistema de identificação a conteúdos como podcasts.
Quando questionado sobre o assunto, o diretor de inovação disse que a plataforma está constantemente preocupada com o desenvolvimento e a evolução de suas ferramentas, tendo como um de seus objetivos proporcionar mais transparência aos usuários.
“A tag que informa os usuários [sobre a presença de IA] não tem o objetivo de desencorajar o uso [das faixas], mas sim de fornecer a informação”, reforçou o profissional em outro momento ao Canaltech.
O sucesso do Velvet Sundown
Prova de que o debate em torno das músicas com IA está só começando é o surgimento da Velvet Sundown, que chamou a atenção da mídia ao alcançar mais de 1 milhão de ouvintes mensais no Spotify mesmo sendo uma banda que conta não apenas com músicas sintéticas, mas é ela mesma gerada a partir de Inteligência Artificial.

Embora a princípio nenhuma informação sobre sua origem constasse no perfil da banda, os usuários do Spotify logo começaram a desconfiar de sua procedência e do fato de não haver informações sobre seus integrantes na internet. Uma desconfiança que acabou quando a Deezer confirmou que as faixas de seu álbum foram criada por IA, e posteriormente quando o próprio grupo atualizou sua biografia no Spotify admitindo ser “um projeto de música sintética guiado pela direção criativa humana, composto, dublado e visualizado com o apoio da inteligência artificial.”
Definidos como uma fusão entre as texturas psicodélicas dos anos 1970 com o alt-pop cinematográfico e o soul analógico etéreo, a Velvet Sundown é a primeira banda de IA a ganhar popularidade nas redes sociais. Mas, ao que tudo indica, muito provavelmente não será a última a fazer carreira nesse nicho.
Com a popularização de modelos generativos como o Suno e o Udio, que permitem criar canções originais a partir de comandos simples de texto, os contornos do uso da IA na música parecem estar cada vez mais complexos e polêmicos.
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