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Curiosidades

Mega Drive ou Super Nintendo: qual foi mais popular no Brasil nos anos 1990?

Ser criança ou jovem nos anos 1990 trouxe diversos aspectos marcantes para todos os jogadores e fãs de videogames. Como não lembrar dessa época com as famosas revistas que estampavam personagens em sua capa como Mario, Link, Sonic e outros grandes ícones nas bancas? Das famosas locadoras, que traziam um catálogo extenso de experiências? Ou até dos clássicos fliperamas, que ainda eram populares e reuniam muitos ao seu redor?

Foi uma década que começou com um grande salto tecnológico, com o Mega Drive e o Super Nintendo trazendo jogos com gráficos impressionantes e qualidade narrativa inédita. Com isso, os dois conquistaram toda a molecada, criando um terreno propício para a indústria gamer se popularizar. Porém, aqui no Brasil isso se dividiu bastante: quem nunca entrou numa discussão com um amigo na escola ou com aquele primo chato que dizia ter todos os jogos para saber qual era o melhor videogame?

Toda essa rivalidade fez parte da chamada Guerra de Consoles dos anos 1990 e até hoje traz muita nostalgia. Mas, afinal de contas, quem foi mais popular no Brasil: Mega Drive ou Super Nintendo? 


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Essa questão é mais complexa do que parece, já que a popularidade pode ser medida de formas bem diferentes — principalmente aqui no nosso país. Fatores como vendas, presença cultural e o carinho dos fãs fazem toda a diferença quando falamos sobre qual deles mais impactou o mercado nacional.

Seja no boca-a-boca (que ocorria dentro das locadoras, grupos de escola etc.), nos comerciais e programas de TV que destacavam suas preferências ou até nas bancas de jornais, todos fomos bombardeados e influenciados por uma competição que ia além do Brasil. E todos tomamos uma decisão, mesmo que de forma inconsciente. Será que a sua foi mesmo a melhor?

Mega Drive e a TecToy

Era dezembro de 1990 e a TecToy decidiu trazer ao Brasil um videogame que estava fazendo a cabeça das crianças no mundo todo. O Mega Drive tinha um design todo preto e um controle muito mais bonito do que os dos outros consoles disponíveis no país.

O timing da empresa brasileira foi incrível: perto do Natal e das festas de fim de ano, em uma época que o brasileiro ainda estava encantado com o Atari e o “novo” Nintendinho. Isso fez o console da SEGA entrar na lista de pedidos de presente para o Papai Noel de muitas crianças.

Imagem do Mega Drive
O Mega Drive lançou em 1990 no Brasil e em grande estilo (Imagem: Reprodução/TecToy)

Grande parte desse início “explosivo” do Mega Drive no país também foi devido a diversos títulos superbem avaliados: Altered Beast, Castle of Illusion Starring Mickey Mouse, Phantasy Star II, Alex Kidd in the Enchanted Castle e Super Monaco GP fizeram parte da primeira leva de jogos de sucesso do videogame, antes da pedrada que foi Sonic the Hedgehog em 1991.

Apesar de o Super Nintendo já circular pelo Brasil no mercado cinza, a distribuição nacional oficial da TecToy foi muito bem vista e um grande diferencial para o público da época.

Outro detalhe muito importante foi a forma como a TecToy “abrasileirou” o Mega Drive. Já naquela época bastante conhecida pelos diversos eletrônicos que lançava no mercado, sendo o mais famoso deles o “Pense Bem”, a empresa não se limitou a trazer o videogame para o país, botar ele nas lojas e esperar o dinheiro cair no bolso. Houve todo um trabalho para localizar o console e sua comunicação para o Brasil, além de campanhas de marketing agressivas e cheias de “brasilidade”.

Imagem do Pense Bem
O Pense Bem é outro grande produto da TecToy nos anos 1990 (Imagem: Reprodução/TecToy)

Os comerciais, que passavam no intervalo dos principais programas da TV aberta, vinham todos em português — com grande parte dublada ou, no mínimo, com legendas. Além disso, vale lembrar a campanha do Mega Net, que permitia o acesso à internet através do Mega Drive, que foi estrelada pelo nadador e medalhista olímpico Gustavo Borges. 

Se hoje trazer propaganda com astros brasileiros chama a atenção, você consegue imaginar o que esse tipo de ação significava nos anos 1990? Era algo completamente absurdo de se ver, o que fortaleceu bastante toda a indústria nacional. Esse tipo de movimentação botou a TecToy e a SEGA acima no mercado e causou muito impacto no público.

Isso sem falar dos jogos traduzidos ou adaptados. Para ter uma ideia, a Sony só passou a trabalhar com esta política a partir de 2013 — com God of War: Ascension, Beyond: Two Souls e The Last of Us. A Microsoft conseguiu isso um pouco mais cedo, com Halo 3, em 2007. A Nintendo, então, nem se fala: apenas em 2022 a japonesa passou a localizar seus games para o português de maneira consistente.

O Mega Drive deu baile e já no início dos anos 1990 lançou adaptações que se tornaram muito famosas, como é o caso de Mônica e o Castelo do Dragão e Chapolin vs. Dracula: Um Duelo Assustador. Nesses dois casos, a TecToy atingiu o ápice de sua representação e cativou não apenas o público, mas também o carinho da própria SEGA. 

Contra-ataque da Nintendo com o Super Nintendo

Nos anos 1990, a Nintendo já era bem conhecida pelos jogadores brasileiros: o NES ainda era um dos videogames queridinhos no país, principalmente devido à quantidade absurda de clones que existiam por aqui, e o Super Nintendo prometia um universo de possibilidades.

Porém, ele tinha no Mega Drive o seu grande rival: ambos pertenciam à geração 16-bit, o que dividia bastante o público-alvo. Inicialmente, no Brasil, eles chegaram através do mercado paralelo (por importações ou através das visitas dos lojistas a países como Argentina e Paraguai). Ou seja, preços com acréscimos salgados e indisponibilidade do console e jogos eram bastante comuns.

Com a chegada oficial e o enorme sucesso do Mega Drive no país, os executivos da Nintendo perceberam que estavam perdendo uma grande oportunidade de ampliar suas receitas. Apesar disso, essa reação demorou a acontecer e foi apenas em 1993 que o Super Nintendo chegou oficialmente por aqui, em uma joint venture formada pela Estrela e a Gradiente chamada Playtronic. O objetivo dessa nova companhia era apenas um: bater de frente com a TecToy.

Todo o plano de negócio era bastante audacioso, afinal de contas a Playtronic foi a primeira companhia a fabricar o Super Nintendo fora do Japão, algo completamente surpreendente para a época. Isso chamou a atenção não apenas dos jogadores, mas de toda a indústria gamer — afinal de contas, o Brasil se tornou o “novo palco” para a icônica guerra de consoles entre o SNES e o Mega Drive.

Ambas tinham um marketing bem agressivo, o que logo gerou faíscas. Comerciais de TV, propagandas em revistas, sátiras e até disputas judiciais marcaram a competição entre as duas companhias. 

Ações como “Genesis does what Nintendon’t” (“Genesis faz aquilo que a Nintendo não faz”, em tradução literal sem considerar o jogo de palavras) e demonstrações de desafeto entre as duas empresas eram comuns. Era claro, a SEGA queria o mercado que a Nintendo dominava, enquanto a própria Big N desejava mostrar ao público que era tão “legal e descolada” quanto a rival.

Isso gerou diversos problemas e dores de cabeça para as duas, inclusive impactando toda a indústria gaming como quando trouxeram Mortal Kombat para seus consoles — gerando os órgãos de classificação etária para os videogames, algo até impensável para a época. Deu para perceber o tamanho de toda essa confusão?

Dito isso, o Brasil se tornou o novo campo de guerra. Somos o quinto maior país de todo o planeta, além de termos a maior densidade demográfica da América Latina. Ainda que distante do “grande centro” que são os Estados Unidos, Europa e Japão, sempre fomos um mercado promissor. E se a SEGA estava investindo aqui, através da TecToy, a Nintendo logo percebeu que não poderia ficar para trás.

E mesmo com os esforços da Nintendo e da Playtronic, a chegada oficial do Super Nintendo por aqui em 1993 foi muito tímida. Àquela altura, o mercado já havia sido dominado por um esquema muito bem arquitetado que garantia um altíssimo fluxo de consoles para os compradores, além da proliferação de cartuchos paralelos e importados.

Imagem do SNES no Brasil
O Super Nintendo chegou ao Brasil em 1993 (Imagem: Reprodução/Playtronic)

Isso também impactou a tradução e localização dos games. Poucos títulos do SNES receberam uma edição nacional, com destaque para o jogo Super Copa — adaptação de Tony Meola’s Sidekicks Soccer que chegou por aqui em português e espanhol. A Playtronic também obteve a licença para fazer propaganda dentro do título, com banners da Elma Chips e da Adidas presentes na experiência.

Porém, é importante ressaltar que o Super Nintendo tinha algumas vantagens técnicas em comparação ao Mega Drive. O uso de tecnologias como o Mode 7 e seus gráficos, assim como a presença de grandes sucessos como Super Mario World e F-Zero, destacavam o console dentro da indústria. Isso sem falar em experiências como Super Mario Kart, The Legend of Zelda: A Link to the Past e outros que reforçavam suas maiores franquias.

Impacto do Mega Drive e Super Nintendo no Brasil

Embora o Mega Drive reinasse absoluto no Brasil até 1993, é inegável que a chegada do Super Nintendo abalou o mercado. Ainda que a TecToy detivesse ampla vantagem, confiança do consumidor e mais tempo na indústria, a Playtronic não demonstrou amadorismo e ressaltou todas as qualidades dos produtos Nintendo para o público nacional.

Ainda que a Big N fosse mais conservadora e sem tanto apelo aos fãs mais maduros (adolescentes e jovens no geral), a SEGA teve bastante dificuldade de manter a liderança com o Super Nintendo em nosso país. Isso se deve ao plano da companhia e da Playtronic de trabalharem suas grandes franquias com uma proposta mais familiar, ao invés de ser algo focado no público hardcore. 

Desta forma, não demorou muito para o Super Nintendo alcançar e até superar o Mega Drive em nosso país. É estimado que, no ano de 1995, a Big N detivesse 60% do mercado e dominasse as vendas do território nacional. Vale notar que, naquele ano, grande parte de seus grandes jogos e franquias já estavam estabelecidos na geração, com o PlayStation prestes a chegar ao país via importação.

Imagem do Super Nintendo
A Super Nintendo passou a ganhar mais força após a metade dos anos 1990 (Imagem: Kevin Roden/Pixabay)

Ainda que a SEGA tenha sido ultrapassada em determinado momento no Brasil, ela se manteve na liderança dentro do mercado. As vendas da TecToy em nosso país eram consideradas muito bem-sucedidas e o console atingiu um total de 3 milhões de unidades vendidas — de acordo com a própria companhia. O console também foi um grande sucesso na América do Norte e Europa.

Em comparação, a Playtronic afirmou que o Super Nintendo teve um total de 2 milhões de unidades vendidas entre os anos de 1993 e 2000. É um número muito expressivo para a época e que tinha potencial de ser maior, caso o console tivesse sido lançado no mesmo período que o Mega Drive, afinal esses dados não contabilizam os consoles vendidos pelo mercado paralelo, que sempre teve uma forte presença em âmbito nacional. 

Sonic vs. Mario no Brasil

Claro que os mascotes mais amados do mundo dos games teriam de entrar nesta disputa, já que foram os principais protagonistas de suas respectivas plataformas: Mario no Super Nintendo e Sonic no Mega Drive. E não apenas uma questão de preferência, mas tinha toda aquela identificação do público com cada um.

Imagem de Mario e Sonic
Mario e Sonic: de qual lado você estava? (Imagem: Divulgação/Nintendo)

Como todos sabem, Sonic sempre teve um design mais descolado e representava uma dinâmica que o Mario nunca veria. Isso se traduzia em sua velocidade, o tênis vermelho, a trilha sonora de seu jogo e as inúmeras formas de atravessar suas fases. Não bastava só seguir em frente, mas descobrir a melhor forma de se fazer isso. 

Já o Mario conquistou o Brasil (e todo o planeta) por sua jogabilidade refinada e uso de muitos recursos para uma melhor experiência. No Super Nintendo, a Big N basicamente reconstruiu todos os conceitos de jogo de plataforma que já tinha criado na franquia Super Mario — alcançando um ponto que chamamos de “genial”. Ele não é apenas um game, é uma referência entre os títulos do gênero.

Enquanto a SEGA tentava se destacar pelo jeito descolado, a Nintendo já mostrava que seu foco era apenas a diversão. Óbvio que também eram vistos saltos tecnológicos e avanços, mas o ponto não era esse para a companhia. Nunca foi, até os dias atuais — com essa política se traduzindo na Estratégia do Oceano Azul que temos hoje em dia.

Mesmo que F-Zero e Donkey Kong Country trouxessem visuais incríveis para a época, assim como Star Fox, Axelay e Super Castlevania IV, o ponto certo de seus títulos era que toda a família se divertia (seja jogando ou apenas observando). Desta forma, a Nintendo trazia mais adeptos e criava todo um ambiente para que todos aproveitassem ao seu próprio modo.

Já a SEGA queria chamar a atenção dos “gamers raiz”, pessoas que estavam buscando uma experiência que os desafiasse. Não que o SNES não houvesse títulos difíceis, mas era um outro tipo de abordagem. Víamos jogos que atraíam mais o público jovem-adulto, como toda a “animosidade” de Altered Beast, o mergulho na fantasia medieval de Golden Axe, a velocidade de Sonic e personagens “cool” como Kid Chameleon e Ristar. 

E esta disputa também se expandida para jogos third-party — de estúdios externos. Vimos games como Street Fighter II (e diversas variantes), International Superstar Soccer e Chrono Trigger no Super Nintendo. Enquanto isso, no Mega Drive, se destacavam experiências como Mortal Kombat, Ayrton Senna’s Super Monaco GP II e adaptações diretas dos fliperamas da Capcom e da SNK, que traziam títulos como Streets of Rage e Fatal Fury ao público.

Imagem de SF e MK
De um lado tínhamos Mortal Kombat, do outro Street Fighter. Para onde seguir? (Imagem: Montagem/Canaltech)

É importante reforçar que grande parte dos jogos do Mega Drive chegavam oficialmente ao nosso país graças aos esforços da TecToy para alimentar o mercado brasileiro. Neste aspecto, tivemos títulos com um preço mais adequado ao público e que “cabiam no bolso” (não entenda errado, não que fossem baratos).

No caso do Super Nintendo, isso era menos acessível. Grande parte dos jogos chegava ao Brasil através do mercado paralelo — ou seja, além de ter um preço mais elevado (já que contava com a conversão de outras moedas e lucro acrescentado em todas as partes envolvidas: transporte, revendedores e das lojas). Fora a baixa disponibilidade, com poucas unidades circulando. 

Ainda assim, é importante notar que estes games ditaram toda a cultura de uma geração. Mario e Sonic não eram apenas simples mascotes, eram uma escolha de vida para os fãs. Afinal de contas, com dinheiro para comprar apenas um videogame, para onde seguiria: para o console do Mario ou do Sonic?

Guerra Civil de Consoles

Escolher entre o Super Nintendo e o Mega Drive não era uma tarefa fácil. Havia diversos fatores que influenciavam o público na direção de um deles. Ou seja, só o seu gosto pessoal não bastava para botar a mão no bolso e gastar um alto valor para comprá-los.

Um desses fatores era visto nas revistas de videogame. Nos anos 1990 e 2000, com a internet avançando a passos lentos, tínhamos no Brasil uma cultura muito forte de bancas de jornais para obter informações. E nessa época era basicamente impossível não entrar em uma e não se deparar com publicações com o Sonic estampado na capa, Mario, Mortal Kombat, Street Fighter e outras grandes franquias ao lado de títulos exagerados e até clickbaits (em sua forma primitiva, obviamente). 

Imagem da SuperGamePower
Grandes franquias estampavam as capas das revistas gamers (Imagem: Reprodução/Nova Cultural)

Em publicações como SuperGamePower, Ação Games e Gamers, o público podia encontrar chamadas que mostravam os jogos que fariam sucesso, análises e até mesmo detonados — o que ajudava a motivar as pessoas a buscarem determinados jogos. Porque não comprar aquele game, já que você já tinha a revista em casa que te ajudava a passar das fases e inimigos? 

Era um processo bem direto, se um game figurava na capa de uma dessas revistas, com certeza isso se tornava uma tendência entre os fãs. Afinal de contas, se chamou a atenção dos “experts”, como ignorar quando se via as capas nas locadoras ou nas lojas? Fora que existia todo um “tráfico” de revistas nas escolas, com todas elas circulando entre a galera.

Falando em escola, não tinha campanha maior de videogames e jogos do que a roda de colegas nos corredores. Em todas, com raras exceções, tinham grupos reunidos falando das novidades do Mega Drive e do Super Nintendo — seja sobre o que estavam jogando, o que leram nas revistas e até mesmo para marcar as famosas sessões de jogatina de fim de semana na casa de um deles (geralmente a que tinha mais espaço na sala para a galera). 

Isso funcionava como um grande motor de influência entre as crianças. Afinal, se você estava dentro de um grupo de amigos que só falava de Super Nintendo, como ousaria comprar um Mega Drive? Teria coragem de ficar de fora dos papos e não estar entre os populares? O mesmo funcionava com o inverso, entre os fãs de Mega Drive raramente alguém decidia comprar um SNES. Seria considerado um verdadeiro sacrilégio.

Imagem de crianças e videogames
Todas as crianças se uniam para jogar no fim de semana (Imagem: Pexels/Cottonbro Studio)

Todo esse debate criava um verdadeiro cenário de guerra civil sobre os videogames entre os fãs. Quem tinha Mega Drive desdenhava de quem tinha o Super Nintendo e vice-versa. E ia além de “o meu videogame é melhor que o seu”, entrando no campo de “comprou o SNES? Só tem jogo de criança” ou “para que comprou um Mega Drive? Não tem Mario e Zelda nele”, geralmente rendendo brigas e amizades desfeitas. 

O sonho de consumo com os 16-bit

O Brasil nunca foi um país onde é barato comprar as coisas. Com um território conhecido pelos impostos, custos de importação e pelos altos índices de inflação, comprar um videogame nunca foi algo acessível para o público.

O Mega Drive foi adotado velozmente pela TecToy em nosso país, o que impediu bastante o apelo do mercado paralelo e dos importadores. Aqui ele era vendido pelo preço sugerido de Cr$ 230.000 — equivalente a 10 meses de salário mínimo do brasileiro. Caro demais, diga-se de passagem.

Com o lançamento do Plano Real em 1994, ele passou a ser vendido por R$ 289,99. Com o salário mínimo na época de R$ 64,79, a diferença foi reduzida para 4 meses de trabalho. Isso era uma realidade mais condizente com o nosso mercado, ainda que não pudesse ser considerado algo barato. Se fosse hoje, o videogame da SEGA seria vendido por R$ 3.812,27 com valores corrigidos.

Já o Super Nintendo chegou ao país em agosto do ano de 1993 com uma realidade um pouco diferente. Seu preço era de cerca de Cr$ 25.000 e o salário mínimo era de Cr$ 5.534,00 — o que representava 4 meses e meio de trabalho para comprar um deles. Já quando mudou para o Plano Real, em 1994, o console da Big N passou a ser vendido a R$ 319,00.

Era bem mais caro do que o Mega Drive e significava quase 5 meses de salário mínimo (por R$ 64,79). Se contabilizarmos a inflação de lá para cá, esse valor hoje seria de R$ 4.193,64 — quase o valor de um Nintendo Switch 2

Imagem do Switch 2
Um SNES quase chega ao preço que o Nintendo Switch 2 é vendido (Imagem: Divulgação/Nintendo)

Aqui não vamos discutir questões como custo-benefício ou algo do gênero, mas dá para entender que não era uma realidade para muitos fãs naquela época. É válido lembrar que o parcelamento em cartão de crédito ainda engatinhava no Brasil naquela época e era oferecido a poucos clientes das instituições bancárias — com os demais possuindo, no máximo, os infames cheques pré-datados. 

Os cartuchos eram um sonho ainda maior. Um título de SNES, por exemplo, podia chegar a até R$ 129 (em uma época que o salário mínimo era de R$ 112). Ou seja, era um valor altíssimo, equivalente a mais de R$ 1.518 hoje em dia. O Mega Drive tinha fitas em um valor menos pesado, entre R$ 44,90 e R$ 84,90 — o que facilitava um pouco comprar jogos novos, embora a conversão revele valores igualmente assustadores, até R$ 618,18.

Com toda esta questão que cerca os valores dos consoles e dos jogos, é fácil entender a cultura de locadoras que surgiu na época. Ainda que muitas delas trabalhassem apenas com filmes e seriados, existiam algumas que também traziam games e outras que trabalhavam apenas com eles (as melhores, diga-se de passagem). 

Isso trouxe outra realidade aos brasileiros, oferecendo não só “estações de jogo” como também jogos para serem alugados a valores acessíveis, que giravam em torno de R$ 2 a R$ 5 o jogo por um fim de semana inteiro. Esse “sistema” acabou contribuindo para que muitos pais investissem apenas em comprar o console para a família, apelando para as locadoras como fonte principal de jogos.

Imagem de uma locadora de games
As locadoras eram muito populares nos anos 1990 e 2000 (Imagem: Reprodução/Acervo)

Além disso, algumas experiências eram bem mais difíceis de encontrar no Brasil. TecToy e Playtronic trabalhavam fortemente nos jogos first-party, enquanto os demais dependiam muito da importação e do mercado paralelo. Isso fora do ambiente das fitas piratas, que existiam aos montes. Então havia toda uma questão de disponibilidade que tornava mais difícil encontrar o seu game favorito. 

De acordo com a TecToy, no Brasil chegaram oficialmente quase 700 jogos do catálogo do Mega Drive no Brasil. Já a Playtronic/Gradiente nunca divulgou esse dado sobre o Super Nintendo, o que torna esta análise entre as duas plataformas mais turva. Porém, é importante levar em consideração que a companhia trouxe diversos outros consoles: o NES (de forma posterior), o Game Boy (no meio da febre Pokémon) e o Nintendo 64. Para isso, no mínimo obtiveram um retorno positivo em relação às vendas.

Afinal, qual videogame foi mais popular no Brasil?

Voltamos ao ponto inicial: qual videogame foi mais popular no Brasil? Super Nintendo ou Mega Drive? Há algumas ressalvas e pontos que devem ser debatidos antes de darmos o veredito. Um deles é o tempo de vida de cada um passou no Brasil, assim como o período econômico. 

O Mega Drive queimou a largada da geração por aqui, dando seus primeiros passos em 1990 e abrindo caminho a partir dali. Porém, em 1995 ele já era considerado “idoso” e perdeu muito espaço para PlayStation e Nintendo 64. Naquela época, as revistas mal o mencionavam, o que impactou fortemente sua popularidade.

Neste aspecto, o Super Nintendo sobreviveu por mais tempo. Mesmo chegando em 1993, seu tempo de vida se estendeu até 2000 por se manter relevante nas revistas do gênero (seja com Detonados, popularidade firme de suas franquias e uma forte ação da Playtronic e da Gradiente para manter ele vivo entre os fãs). Ou seja, há muitas “viúvas” do SNES que o pegaram justamente nesta fase e trocaram por outras gerações posteriormente. 

Dito isso, em questão de saída, a TecToy declarou que o Mega Drive vendeu 3 milhões de unidades dentro dos anos 1990 no Brasil. Ela se sobressaiu com o lançamento antecipado e obteve uma parcela maior de jogadores oficialmente no país. O Super Nintendo ficou logo atrás, com 2 milhões de unidades vendidas, de acordo com a Playtronic. 

Imagem de Mega Drive
O Mega Drive teve mais vendas nos anos 1990 (Imagem: Divulgação/SEGA)

A questão sobre o SNES é que, por mais que ele tenha ficado por um tempo longo tempo ntre o público (chegando até o ano 2000), ele disputou espaço com o PlayStation e com o próprio Nintendo 64 — seu sucessor. Além disso, milhares de unidades foram vendidas pelo mercado paralelo e importações, o que não é possível mensurar se teve potencial para ultrapassar o console da SEGA ou não.

O Mega Drive pode ter perdido força com o passar daqueles anos, porém a TecToy se manteve firme em relação ao console 16-bit. Eles trouxeram diversas versões diferentes do console, assim como centenas de games de sua biblioteca oficialmente – o que é louvável, principalmente para a sua época. 

Se em vendas o Mega Drive saiu na frente, a glória de causar um grande impacto e trazer inovações com seus jogos acaba ficando nas mãos do SNES. Os títulos da SEGA foram marcantes, mas é inegável que a Nintendo alavancou grandes franquias, estreou novos gêneros e obteve uma grande atenção no Brasil durante o período. Não era raro ver seus personagens e jogos estampando as capas das revistas ou uma maior presença nas locadoras. 

Esse aspecto da memória afetiva varia para cada um, com ambos os consoles carregando um grande carinho da comunidade até os dias atuais. Independentemente da qualidade dos títulos e aclamação das revistas, é impossível dizer que um tinha mais amor dos fãs do que o outro: é um conceito subjetivo e cuja conclusão é de que ambos deixaram marcas profundas em toda uma geração. Não é à toa que eles são sempre lembrados.

Outro ponto que merece debate é que, em cada momento dos anos 1990, um deles teve um pico maior de popularidade. Se o Mega Drive reinou absoluto por alguns anos, em outros o Super Nintendo mostrava uma força maior — seja em vendas, em presença no mercado (como em seus lançamentos, revistas especializadas e outras ações) e em várias frentes. 

Imagem do Mario Kart
O SNES e o Mega Drive tinham picos de popularidade por vários fatores (Imagem: Reprodução/Nintendo)

Ou seja, pode ter ocorrido algum momento que você viu que a maior parte do seu grupo na escola tinha um SNES e raramente encontrava alguém com um Mega Drive ou vice-versa. Isso era comum e ajudava a mostrar as flutuações que cada companhia teve, seja no mercado com a sua guerra dos consoles ou com lançamentos mais fortes que moveram o público.

Em questão de vendas, o Mega Drive teve uma popularidade maior de vendas no Brasil. Porém, em outros quesitos, ele e o Super Nintendo disputaram uma guerra muito bem equilibrada e que teve seus altos e baixos. O impacto de ambos é colossal e provocou um impacto que é visto até hoje em dia na indústria dos videogames.

Guerra entre colossos

A TecToy e a Playtronic acertaram e ao trazer o Mega Drive e o Super Nintendo oficialmente ao Brasil, com ambos vivendo uma trajetória épica em nosso país. Ambos os consoles conquistaram o público, guiaram muitos fãs e ajudaram a moldar toda uma comunidade gamer que está aí até hoje.

A rivalidade entre as duas plataformas pode ter sido intensa, mas ajudou a tornar ambas em grandes forças no universo dos games. Para tentar superar a concorrente, elas impulsionaram a criatividade — seja dentro dos próprios jogos ou dentro do mercado brasileiro através da Playtronic e da TecToy — para trazer experiências marcantes e atemporais. 

Se você teve um Mega Drive ou um Super Nintendo ou acompanhou toda esta disputa, sabe o legado que isso deixou e como fez a felicidade de milhões de pessoas. E o que construíram segue firme até os dias atuais, seja através de fãs e colecionadores ou nos próprios serviços das grandes fabricantes — como os planos de assinatura com os games desta geração se apresentando como grandes destaques. 

De qual lado você estava na década de 1990? Super Nintendo ou Mega Drive? Compartilhe e nos conte como viveu toda esta guerra que movimentou toda uma geração.

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Sou Augusto de Paula Júlio, idealizador do Tenis Portal e do Curiosidades Online, tenista nas horas vagas, escritor amador e empreendedor digital. Mais informações em: https://www.augustojulio.com.