Jeanne Dielman: “melhor filme da história” estreia no Brasil. Saiba onde ver
Um dos melhores filmes da história foi exibido pela primeira vez há 50 anos – e, nesta quinta (11), será finalmente lançado nos cinemas brasileiros.
Jeanne Dielman, 23, Quai du Commerce, 1080 Bruxelles (1975), ou simplesmente Jeanne Dielman, é um drama dirigido pela cineasta belga Chantal Akerman que acompanha a vida de uma viúva durante três dias – e foi eleito o melhor filme de todos os tempos em 2022 pela prestigiada revista britânica Sight and Sound.
Quando foi lançado, na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes de 1975, Jeanne Dielman não causou muito furor entre o público ou os críticos. A percepção dos amantes do cinema foi se transformando nas décadas seguintes, da mesma forma que a percepção do espectador do filme vai mudando enquanto acompanha a rotina aparentemente banal de Jeanne Dielman, a dona de casa interpretada por Delphine Seyrig.
A câmera acompanha Jeanne em tudo que ela faz, com raros cortes: cenas longas mostram a protagonista descascando batatas, limpando a casa, saindo para comprar coisas que precisa e cuidando de seu filho.
Tudo se repete, com câmeras estáticas, e a rotina da viúva fica bem estabelecida para quem está assistindo. É aí, nessa aparente banalidade, que Akerman vai aos poucos revelando que a vida dessa mulher não é tão ordeira quanto aparenta ser.
A reviravolta que espera quem assistir até o final do filme de 3h21 é diferente de qualquer coisa na história do cinema, antes ou depois de Jeanne Dielman.
Esse clássico do cinema de arte já foi exibido em cineclubes e mostras especiais aqui no Brasil – eu mesmo assisti ao filme no Instituto Moreira Salles de São Paulo, em 2023. Mas nunca foi exibido comercialmente nos cinemas nacionais. Com distribuição da Filmicca, vai ser possível ver o filme de Akerman nas telonas de oito cidades.
Como funciona a eleição de melhor filme
Desde 1952, a revista britânica Sight and Sound tem uma tradição: eleger os melhores filmes de todos os tempos a cada 10 anos. Para isso, eles convidam críticos e diretores do mundo todo para votar em seus favoritos.
A lista já mudou bastante com o tempo, mas algumas coisas eram constantes: entre 1962 e 2002, o filme mais votado sempre foi Cidadão Kane, o clássico de Orson Welles de 1941.
A partir da edição de 1992, os organizadores da Sight and Sound começaram a separar a lista dos críticos da lista dos cineastas. Passear pelo site deles é uma diversão: você pode comparar as listas de críticos e diretores, além de checar os votos individuais de cada um dos eleitores. 29 brasileiros aparecem na lista, incluindo diretores como Walter Salles e Kleber Mendonça Filho.
A lista é uma das mais respeitadas entre cinéfilos do mundo todo, o mais próximo de um cânone cinematográfico que existe. Desde 2012, o corpo de eleitores se expandiu: a revista acatou críticas que já rolavam há décadas sobre falta de diversidade entre as pessoas que elegiam os melhores filmes de todos os tempos.
Na votação daquele ano, o primeiro lugar mudou: Vertigo (ou Um Corpo que Cai, como também é conhecido no Brasil), o suspense psicológico de Alfred Hitchcock, assumiu a dianteira.
Em 2022, o grupo de votantes da Sight and Sound ficou ainda maior. Os britânicos chamaram 1.639 críticos do mundo inteiro para participar, além de ampliarem a lista de 100 para 250 filmes. O cinema brasileiro garantiu dois representantes na lista, empatados em 211º: Limite (1931), clássico mudo de Mário Peixoto, e Cabra Marcado Para Morrer (1984), fantástico documentário de Eduardo Coutinho.
A maior surpresa, porém, não foi a inclusão desses dois filmaços brasileiros na lista, e sim a mudança do primeiro lugar. Em vez de coroar Cidadão Kane ou Vertigo, a comunidade crítica internacional votou em peso no clássico feminista de cinema lento de Chantal Akerman, Jeanne Dielman. É o sinal de um corpo de eleitores mais diverso, e também de uma obra de arte que continua se revelando com o tempo.
Foi uma escalada. Dez anos antes, o filme já aparecia na lista, mas em 36º. Em 2002, aparecia em 73º.
A lista encabeçada por Jeanne Dielman é interessantíssima, e um bom desafio de férias (ou de vida, mais realisticamente) para quem quiser aprender um pouco mais sobre cinema. Se você quiser começar pelas cabeças, dá para aproveitar a versão restaurada do filme em cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro, Niterói, Porto Alegre, Salvador, Fortaleza, Recife e Aracaju a partir desta quinta (11).
Se sua cidade não está na lista, não entre em pânico: ainda dá para assistir ao clássico no streaming da Filmicca.
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