Home office virou armadilha? Burnout avança no setor tech
A imagem do profissional de tecnologia como alguém privilegiado, que trabalha de casa, com horários flexíveis e bons salários, esconde uma realidade cada vez mais alarmante. Segundo o psiquiatra Antônio Geraldo, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), esse é justamente um dos setores com maior risco de esgotamento mental e burnout.
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“Teoricamente, o home office deveria ser mais tranquilo. Mas, na prática, o que vemos é um aumento assustador de adoecimentos”, afirma em entrevista ao Podcast Canaltech. “As pessoas estão conectadas o tempo todo. A jornada não acaba.”
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Excesso de cobrança e jornadas sem fim
O setor de tecnologia exige atualização constantes, novas linguagens, novas ferramentas, novas ameaças e esse ritmo acelerado tem um custo. “Quem trabalha com tech precisa se reciclar o tempo inteiro. A todo momento tem uma novidade, e isso gera uma pressão absurda por produtividade”, explica o psiquiatra.
Além disso, o home office, tão comum na área, rompeu fronteiras entre trabalho e vida pessoal. “Você acorda, já está trabalhando. À noite ainda está respondendo e-mails. No fim de semana tem entrega. E o problema é que essa sobreposição afeta também as relações familiares, o descanso, o lazer. Tudo vira trabalho.”
Riscos invisíveis, mas reais
Dr. Antônio destaca que a sobrecarga mental não vem só das tarefas: ela está nos detalhes invisíveis da rotina. “Excesso de telas, luz azul, estímulos constantes, sono interrompido… Tudo isso tem impacto direto no cérebro. E esses são fatores médicos que precisam ser levados a sério.”
Outro ponto crítico é o ambiente de metas abusivas e cobranças desproporcionais. “Tudo é urgente. Se você não entrega, vem a ameaça de demissão, o medo, o assédio. E isso adoece.”
Como identificar os primeiros sinais?
Para o psiquiatra, é essencial que empresas e colegas fiquem atentos aos sinais de alerta. “A pessoa que sempre foi pontual começa a atrasar. Esquece tarefas simples. Está mais irritada, retraída, perde peso, não sorri mais. Tudo isso pode indicar esgotamento.”
E reforça: o problema não está no trabalho em si. “Trabalho é bom, dá autonomia, dignidade. O que precisa mudar é a relação do profissional com o trabalho e o papel da empresa nessa relação.”
O impacto para as empresas
Os dados são preocupantes. Entre 2023 e 2024, o número de afastamentos por doenças mentais no Brasil chegou a quase meio milhão, com crescimento de quase 100%. “As empresas estão perdendo gente treinada, produtiva, porque não sabem ou não querem cuidar do ambiente de trabalho.”
Segundo o médico, cuidar da saúde mental não deve ser visto como custo, mas como estratégia. “A empresa que adoece seus funcionários perde em todos os sentidos: perde imagem, perde continuidade, perde inovação.”
O que as empresas de tecnologia podem (e devem) fazer
Dr. Antônio defende que empresas do setor tech, especialmente, adotem medidas práticas de prevenção. Uma delas é a nova exigência da Norma Regulamentadora nº 1 (NR01), que obriga a avaliação de riscos psicossociais no ambiente de trabalho.
“Assim como já se avaliam riscos ergonômicos, agora será preciso avaliar os riscos mentais. Isso é um avanço e pode transformar o setor.”
Ele sugere que as companhias contratem profissionais especializados para mapear esses riscos e criar rotinas de proteção. E reforça: “Isso não é só para evitar multa ou processo. É para proteger a inteligência da empresa, que está nas pessoas.”
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