Estudo revela que mudanças específicas na urina podem ser sinais de demência

Uma nova pesquisa científica trouxe à tona um possível sinal precoce de demência que, até pouco tempo atrás, passava despercebido pela maioria das pessoas: mudanças na urina. Embora alterações urinárias possam ter várias causas — desde aumento na ingestão de água até infecções ou outros problemas de saúde — um detalhe específico chamou a atenção dos cientistas por estar fortemente ligado ao desenvolvimento da doença.

De acordo com dados do Alzheimer’s Research UK, a demência foi a principal causa de morte no Reino Unido em 2022, sendo responsável por 74.261 óbitos. A condição, que inclui doenças como o Alzheimer, compromete progressivamente a memória, o raciocínio, a linguagem, a coordenação motora e até o controle emocional, provocando sintomas como ansiedade e depressão.

Estudos anteriores já haviam sugerido uma relação entre o funcionamento do sistema digestivo — como casos persistentes de constipação — e o risco aumentado de desenvolver demência. Agora, pesquisadores suecos deram um passo além e observaram que alterações específicas na urina, principalmente a presença de espuma, também podem estar relacionadas ao surgimento da doença.

A aparência espumosa da urina, parecida com a espuma formada em um copo de cerveja, pode indicar níveis elevados de uma proteína chamada albumina. A presença dessa substância em quantidades anormais na urina — condição conhecida como albuminúria — costuma estar associada a danos nos rins. Segundo a pesquisadora Hong Xu, professora assistente de neurobiologia no Instituto Karolinska, isso pode estar intimamente ligado ao cérebro.

“Os rins e o cérebro podem parecer órgãos muito diferentes, mas compartilham uma característica importante: ambos dependem de uma rede delicada de pequenos vasos sanguíneos”, explicou Xu. “Quando os vasos nos rins são danificados, o mesmo processo frequentemente ocorre no cérebro.”

O estudo acompanhou cerca de 130 mil pessoas com mais de 65 anos em Estocolmo que não tinham diagnóstico prévio de demência. Após quatro anos, aproximadamente 7% dos participantes desenvolveram a doença. Ao analisar a função renal e outros fatores, os cientistas descobriram que aqueles com níveis moderados de albumina na urina (entre 30 e 299 mg/g) apresentavam um risco 25% maior de desenvolver demência. Já os que tinham níveis acima de 300 mg/g mostraram um aumento de 37% no risco, em comparação com indivíduos com até 30 mg/g.

Entre os sintomas mais comuns da albuminúria estão urina espumosa, micção frequente, inchaço nos olhos e retenção de líquido nos pés, tornozelos, abdômen ou rosto. O estudo também revelou que a presença de espuma na urina estava mais fortemente associada à demência vascular — a segunda forma mais comum da doença, causada por problemas na circulação cerebral.

Para Xu, esses resultados reforçam a necessidade de incluir a triagem para albuminúria nos exames de rotina, especialmente em pessoas com hipertensão, diabetes, doenças cardiovasculares ou problemas renais. “A detecção precoce da albuminúria pode potencialmente atrasar ou até evitar o surgimento da demência”, destacou a pesquisadora.

Publicado no Journal of Internal Medicine, o estudo concluiu que níveis elevados de albumina estão relacionados a um risco maior de todos os tipos de demência, em especial das formas vascular e mista. A identificação precoce desse marcador pode permitir intervenções mais eficazes na saúde dos rins e do cérebro, abrindo caminho para estratégias de prevenção que ajudem a retardar o avanço da doença.

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