Enterrada sob Manchester, estrada romana de 2 mil anos é achada na Inglaterra
Arqueólogos identificaram uma antiga estrada logo abaixo do centro de Manchester, na Inglaterra. Trata-se de uma das descobertas mais significativas da era romana da cidade dos irmãos Gallagher nas últimas décadas.
A via, feita de cascalho compactado e surpreendentemente bem preservada, foi encontrada a cerca de 40 centímetros da superfície, sob a movimentada Liverpool Road, próximo à região de Castlefield. Quem conduziu a escavação foi a escavação foi a empresa Civic, em parceria com a OBI Property, a serviço da incorporadora Allied London.
Segundo os pesquisadores, a estrada apresenta múltiplas camadas de reparo, indicando seu uso contínuo ao longo de séculos, possivelmente desde o final do século 1 a.C. até o início do século 4 d.C. Além da própria via, foram encontrados diversos artefatos romano-britânicos, como fragmentos de cerâmica doméstica e vidros decorativos, tanto locais quanto importados.
Para os arqueólogos, o achado fornece evidências de que existiu um vicus – assentamento civil romano – nas imediações, cuja presença já era sugerida por escavações realizadas nas décadas de 1970 e 1980. A estrada pode ter funcionado como a principal saída norte do antigo forte romano de Mamucium, estabelecido por volta do ano 78 d.C. e situado nas proximidades.
“Os romanos sabiam o que estavam fazendo quando se tratava de engenharia”, disse o arqueólogo Graham Mottershead, da Civic, à BBC. “Não vejo algo tão significativo em Castlefield há pelo menos 20 anos.” Já Ian Miller, do Serviço Consultivo de Arqueologia da Grande Manchester, descreveu o achado como “certamente a melhor arqueologia romana” vista no centro da cidade em mais de duas décadas.
A nova escavação se soma a outras realizadas ao sul do local nas últimas décadas, e pode ser a peça que faltava para conectar diferentes áreas do assentamento romano em Manchester. Os pesquisadores acreditam que a descoberta permitirá reinterpretar os achados anteriores e entender melhor o tipo de construções que existiam fora das muralhas do forte.
Depois de analisados, os objetos recuperados devem ser exibidos ao público. Para Ollie Cook, diretor da Civic, o potencial histórico é inestimável. “A análise do material coletado vai ampliar consideravelmente nosso conhecimento sobre a Manchester romana. O patrimônio cultural é fundamental para o desenvolvimento sustentável dos espaços urbanos — e descobertas raras como essa contam histórias que atravessam gerações”, destacou em comunicado.
Sistema viário romano
A estrada recentemente descoberta em Manchester integra uma herança viária milenar que moldou o território britânico a partir da chegada dos romanos, em 43 d.C. Durante quase quatro séculos de domínio imperial, 3,2 mil quilômetros de estradas pavimentadas foram construídos na província da Britânia, formando uma malha estratégica que conectava fortes, centros administrativos e portos.
Como observa Ivan Margary no livro Roman Roads in Britain, essas rotas foram traçadas e construídas majoritariamente por engenheiros do exército, com o objetivo inicial de garantir deslocamento rápido de tropas e suprimentos militares. Com o tempo, passaram também a sustentar o comércio e o transporte de mercadorias em larga escala.
As vias principais, como Watling Street, Fosse Way e Ermine Street, eram compostas por fundações robustas de pedra e cascalho, com plataformas elevadas (chamadas agger em latim) e margens drenadas, permitindo circulação em qualquer estação do ano. Mesmo após a retirada dos romanos, em 410, muitos trechos continuaram sendo usados como rotas centrais durante a Idade Média. Só deixaram de ser a principal rede rodoviária do país no século 18, com o surgimento das estradas turnpike – vias públicas mantidas por pedágios e administradas por trustes privados.
No caso específico de Manchester, a via agora revelada provavelmente servia como rota de saída em direção ao norte da província. Ela se encaixa em uma fase inicial da expansão romana para o interior da Britânia, quando estradas foram abertas para conectar bases legionárias em cidades como York (Eboracum), Chester (Deva Victrix) e Lincoln (Lindum).
A preservação excepcional dessa estrada reforça a sofisticação da engenharia romana e oferece uma oportunidade de estudar, em plena área urbana, como a rede viária se articulava com os assentamentos civis (vici) que se formavam ao redor das guarnições militares.
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