E.T.? Star Wars? Conheça o primeiro jogo que adaptou uma história dos cinemas
Muitos jogos adaptaram histórias vistas nos cinemas, com experiências que tentam replicar o que é visto nos filmes dentro do videogame. Exemplos clássicos como E.T. The Extra-Terrestrial (e seu fracasso), RoboCop, The Goonies II e algumas outras são muito conhecidos pelos fãs, mas qual destes títulos foi o pioneiro a realizar esta proeza?
Na verdade, nenhum deles realmente foi o primeiro a traduzir a linguagem dos longas-metragens para os fliperamas e consoles domésticos. Essa é uma arte “ancestral” e deu seus primeiros passos nos anos 1970 — com um título que não apenas causou impacto nesta transição, mas que também causou muita controvérsia dentro da indústria gaming.
Nós do Canaltech fomos buscar, lá entre os incas e os maias, qual foi o primeiro jogo que adaptou uma história dos cinemas. Pois é, não foi E.T., sequer foi algum game baseado na franquia Star Wars. A resposta está em uma pérola ainda mais distante e desconhecida por muitos.
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A Corrida da Morte nos jogos
O ano era 1975 e surgiu um filme que se tornou bem polêmico entre os fãs da sétima arte: Corrida da Morte – Ano 2000. Nele, vemos os atores David Carradine e Sylvester Stallone participando de uma corrida em que ganhavam pontos extras a cada pedestre que atropelavam.

Esta disputa atravessava todo o continente e eles viviam em um futuro distópico, o que deu a atmosfera da trama. Ele não foi muito aclamado na época, mas acabou virando um clássico cult e uma das obras escondidas do ator que futuramente interpretou Rocky e Rambo.
Porém, pode-se notar que o tom é bem maduro e nada apto para crianças. Os Estados Unidos virando uma distopia com um governo totalitário, a parte de obter pontos atropelando pessoas inocentes e o protagonista se chamar Frankenstein e ter seu corpo formado por vários implantes cibernéticos não era bem o que chamamos de infantil ou “family-friendly”.
E, naquela época, tudo que ia parar no mundo dos jogos eletrônicos era basicamente voltado para crianças. Óbvio que jovens e adultos também jogavam, mas desenvolvedores e o mercado no geral tinham esta visão sobre a mídia (que teima em persistir até os dias atuais, mas isso é outra discussão). E é aí, caros leitores, que as coisas começaram a dar errado.
O jogo Death Race
Um ano após a estreia do filme, tivemos a chegada de Death Race (1976) para o Exidy. Sua ideia adaptava, literalmente, os eventos vistos no cinema para o jogo: você controlava carros e tinha de atropelar figuras pixeladas de uma figura com braços e pernas — que poderiam ser humanos.
Na verdade, o estúdio e a fabricante do videogame apelaram para dizer que as criaturas atropeladas eram gremlins, mas todos sabemos como isso funciona quando não se dá para estabelecer com exatidão o que aqueles pontos quadriculados dos anos 1970 representam, não é?

Para piorar a situação, cada gremlin que era atropelado em Death Race emitia um som agudo (como se estivesse gritando de dor) e onde ele estava surgia uma lápide. Super saudável, principalmente para uma sociedade que via apenas Pong.
O problema é que isso aconteceu muitos anos antes da Classificação Etária nos jogos eletrônicos ser concebida. E você consegue imaginar a reação dos pais ao ver seus filhos e demais crianças se divertindo e gritando enquanto atropelam figuras similares às humanas?
O escândalo que foi dos cinemas aos jogos
Antes deles saberem sobre Death Race, a mídia foi a primeira a alertar as figuras paternas. Uma jornalista da Associated Press viu o jogo em um fliperama e ficou chocada com tudo o que pôde perceber — o que gerou não apenas uma matéria publicada, mas uma cadeia de eventos para cobrir o novo fenômeno que estava “destruindo a infância” e levando crianças para um “caminho sombrio”.
As manchetes, lógico, eram extremamente chamativas. Um “esse jogo ensina a matar”, “o jogo doentio” e coisas do gênero demonstram o grau em que todo este debate começou a entrar com uma ampla cobertura de jornais e programas de TV. Eles recebiam psicólogos, especialistas e outras personalidades para dar mais credibilidade à retaliação.
A partir disso, Death Race foi dos cinemas à uma verdadeira comoção entre os pais e órgãos públicos. Não se tratava apenas de proibir as crianças de jogar, era algo que chegou ao nível de um boicote total. A pressão foi tamanha que os fliperamas foram removidos para não sofrerem qualquer tipo de prejuízo por protestantes mais agressivos.
Enquanto a Exidy alegava que atropelavam gremlins e que tudo não passava de fantasia, especialistas apontavam para uma participação direta das crianças na violência (ao invés do filme, em que só assistem), que a experiência causava dessensibilização e que não havia um contexto de bem vs. mal ou algo do tipo: era apenas a mais pura vontade de matar.

Os pais poderiam apenas proibir os filhos de jogar Death Race, banir a experiência baseada nos cinemas e deixar por isso mesmo. Porém, a iniciativa da adaptação causou protestos, criou comitês públicos e levou toda a sociedade a debater sobre a polêmica. Virou o “assunto do momento” nos EUA.
Pois é, se hoje você vê o debate sobre a violência dos games e pensa que surgiu com títulos como GTA, Assassin’s Creed, Call of Duty e até Mortal Kombat, está cometendo um grande engano. Na verdade, esse debate na indústria dos jogos e das adaptações surgiu em 1976 com Death Race.
Os impactos de Death Race
Ainda que a Exidy tenha removido os fliperamas de Death Race, a adaptação do filme nos jogos acabou se tornando um verdadeiro sucesso. A cobertura negativa acabou se tornando uma “propaganda” e levou o game a ter um impulso maior de vendas após a polêmica do que já tinha antes.
Isso também causou um processo de autocensura dentro dos estúdios. Para não chamar a atenção negativamente, a Atari implementou regras internas que serviam para evitar violência explícita contra figuras humanas. Assim, é possível compreender o excesso de jogos com naves, tanques e criaturas fantásticas durante os anos 1980.
E, apesar dos debates começarem nesta época, eles foram muito longe. Eles voltavam a ocorrer (de forma menos alarmante) em determinados lançamentos e teve o seu estopim com Mortal Kombat, Night Trap e Lethal Enforcers — no início dos anos 1990.
Neste caso, o Governo dos Estados Unidos teve de intervir contra a SEGA e a Nintendo, que funcionou como os primeiros passos para alcançarem a Classificação Etária nos games. A indústria conseguiu fugir disso por quase 20 anos, mas acabou acatando uma norma em escala global que segue até os dias atuais.
Quem diria que o filme Corrida da Morte – Ano 2000, que estreou nos cinemas em 1975, causaria tanto alvoroço ao ser adaptado para os jogos eletrônicos, não é? Bastante barulho para uma primeira tentativa de levar as telonas para os videogames, diga-se de passagem.
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