Diagnósticos de autismo aumentam 6.000%: o que está acontecendo?
Nas últimas décadas, o número de diagnósticos de autismo cresceu de forma tão acelerada que está mudando a maneira como a sociedade entende o funcionamento do cérebro humano. Nos anos 1990, estimava-se que apenas uma em cada 2.500 crianças fosse diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Hoje, essa proporção chega a um caso para cada 36 crianças — um aumento de aproximadamente 6.000%.
Pesquisadores e profissionais de saúde concordam que esse salto não se deve apenas à melhoria dos métodos de diagnóstico. Mudanças ambientais, sociais e até biológicas parecem estar alterando a forma como o cérebro se desenvolve e interage com o mundo moderno.
Do “transtorno” à “condição”: um novo olhar sobre o autismo

A psiquiatra argentina Alexia Rattazzi, fundadora do programa PANAACEA, defende uma mudança profunda no modo como a sociedade fala sobre o tema. Ela propõe substituir o termo transtorno por condição, transformando o acrônimo TEA em CEA — Condição do Espectro Autista.
“O termo ‘transtorno’ carrega uma carga negativa”, explica Rattazzi. “Falar em condição significa reconhecer que existem várias formas válidas de perceber e processar o mundo. Não é negar que algumas pessoas precisem de apoio, mas sim valorizar a diversidade neurológica.”
Para ela, o uso das palavras tem poder real sobre o modo como as pessoas são vistas e tratadas. “Se as crianças crescerem em ambientes onde a diferença é algo natural, não precisaríamos mais falar em inclusão — ela já seria parte do cotidiano.”
A proposta de Rattazzi acompanha uma tendência global que busca tirar o foco da “normalização” e colocar o indivíduo no centro das estratégias de apoio e desenvolvimento.
O que dizem os especialistas sobre as causas

De acordo com a Mayo Clinic, uma das instituições médicas mais respeitadas do mundo, o autismo é um síndrome comportamental de origem multifatorial. Isso significa que não existe uma única causa, mas sim uma combinação de fatores genéticos, ambientais e sociais.
Muitos pacientes também apresentam condições associadas, como transtornos gastrointestinais, seletividade alimentar e problemas metabólicos, o que pode levar a deficiências nutricionais e complicações de longo prazo.
Por isso, a instituição recomenda abordagens multidisciplinares, com equipes formadas por pediatras, psicólogos, neurologistas e nutricionistas. O objetivo é não apenas reduzir sintomas secundários, mas também melhorar a autonomia e a qualidade de vida, especialmente em ambientes de convivência e aprendizado, como escolas e espaços de lazer.
Novos debates: paracetamol, vacinas e leucovorina

O aumento dos diagnósticos reacendeu discussões antigas — e, muitas vezes, polêmicas. Recentemente, Donald Trump e Robert F. Kennedy Jr. voltaram a sugerir uma relação entre o uso de paracetamol durante a gravidez e o desenvolvimento do autismo.
A FDA, agência reguladora dos Estados Unidos, respondeu afirmando que não há nenhuma evidência científica que comprove essa ligação. A hipótese ganhou força após uma revisão feita por Harvard e pela Escola de Medicina Icahn do Monte Sinai, que analisou 46 estudos. Apesar de algumas correlações estatísticas, os próprios autores alertaram que a relação causa-efeito não foi demonstrada.
Em outro campo, a FDA aprovou o uso de leucovorina, uma forma da vitamina B9, em crianças com deficiência de folato cerebral — uma condição observada em até 30% dos pacientes dentro do espectro.
Segundo a neurocientista Alycia Halladay, “o tratamento pode ser útil para um grupo específico, mas não deve ser visto como uma solução universal”.
O psiquiatra argentino Andrés Luccisano, do Hospital Italiano de Buenos Aires, também reforça essa visão:
“Reduzir o autismo a uma única causa, como o paracetamol, ou apresentar a leucovorina como uma cura, é criar falsas esperanças. O autismo é complexo e precisa ser tratado de forma ampla, respeitando cada caso individual.”
A infância moderna e os novos desafios
O psiquiatra Christian Plebst aponta outro fator importante: o estilo de vida atual das crianças. Segundo ele, o excesso de telas digitais, a falta de movimento físico e o afastamento da natureza podem estar afetando o desenvolvimento neurológico.
“O cérebro infantil precisa de estímulos variados e tempo de qualidade com outras pessoas. Quando o ambiente não acompanha o ritmo natural da criança, surgem as dificuldades”, explica Plebst.
Para ele e Rattazzi, as escolas precisam se adaptar a uma educação verdadeiramente inclusiva, em que crianças com diferentes formas de pensar aprendam lado a lado. “Separar o diferente só reforça preconceitos”, afirma Rattazzi. “A verdadeira inclusão acontece quando todos compartilham o mesmo espaço e aprendem juntos.”
Neurodiversidade: um conceito que veio para ficar
O termo neurodiversidade vem ganhando força ao redor do mundo. Ele parte da ideia de que não existe um único modo “normal” de funcionamento cerebral — há múltiplas maneiras de perceber, reagir e se comunicar.
Sob essa perspectiva, o autismo deixa de ser visto como uma anomalia e passa a ser reconhecido como parte da variação natural da mente humana.
Para especialistas, o futuro deve priorizar educação inclusiva, diagnósticos personalizados e apoio familiar contínuo, substituindo a busca por uma cura pela construção de ambientes que acolham e valorizem cada tipo de funcionamento mental.
Como resume Plebst:
“Essas crianças se desenvolvem melhor quando a comunidade participa — família, escola e vizinhos. O ser humano sempre evolui em relação com os outros.”
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