Centenas de botos-cor-de-rosa são encontrados mortos em lago na Amazônia após a água ficar mais quente que uma jacuzzi
O lago Tefé, no coração do estado do Amazonas, se transformou em um cenário alarmante em 2023, quando dezenas de botos-cor-de-rosa e tucuxis começaram a aparecer mortos nas margens. A cena, que chocou especialistas e moradores locais, chamou a atenção de cientistas do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. O hidrólogo Ayan Fleischmann foi um dos primeiros a chegar ao local para tentar entender o que havia acontecido.
O que ele e sua equipe encontraram foi um retrato extremo dos efeitos do calor sobre os ecossistemas tropicais. O lago, que normalmente registra temperaturas entre 29 e 30 °C, alcançou 41 °C durante o período de seca, mais quente que a água de uma jacuzzi. “Não dava para colocar o dedo na água”, relatou Fleischmann. A alta temperatura coincidiu com uma das piores estiagens já registradas na Amazônia, quando os níveis dos rios atingiram patamares críticos e o transporte fluvial ficou quase impossível.

Os pesquisadores coletaram dados em dez lagos da região central da Amazônia. Em cinco deles, a água ultrapassava 37 °C durante o dia. No caso de Tefé, o nível da água caiu tanto que a área do lago encolheu em cerca de 75%. Além da temperatura anormal, o que chamou a atenção foi que o calor não se concentrava apenas na superfície. As medições mostraram que toda a coluna d’água, com profundidade de até dois metros, estava igualmente aquecida.
Segundo os cientistas, quatro fatores atuaram em conjunto para criar esse efeito: radiação solar intensa, águas rasas, ventos fracos e alta turbidez. A combinação desses elementos faz com que o calor se acumule sem possibilidade de dispersão. A pouca profundidade aumenta a concentração de sedimentos, que dificultam a circulação da água e retêm ainda mais calor. Com ventos fracos, há pouca perda de energia térmica para a atmosfera, e o resultado é um ambiente quase fervente.

A situação teve consequências devastadoras. Na última semana de setembro de 2023, o WWF Brasil registrou a morte de 153 golfinhos — sendo 130 botos-cor-de-rosa e 23 tucuxis. Ambas as espécies estão na lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza, classificadas como ameaçadas de extinção. Na cultura ribeirinha, o tucuxi é considerado um guardião dos rios e símbolo de boa sorte, o que tornou o episódio ainda mais triste para as comunidades locais.
Mas a tragédia não afetou apenas os mamíferos aquáticos. A água superaquecida também provocou a morte de peixes e desencadeou um fenômeno incomum: uma proliferação de fitoplâncton que deixou o lago com tons avermelhados. Esse desequilíbrio biológico foi estudado em outro trabalho científico conduzido pela mesma equipe.
Ao analisar imagens de satélite da NASA coletadas desde 1990, os pesquisadores descobriram que os lagos amazônicos vêm aquecendo cerca de 0,6 °C por década — um ritmo superior à média global. O dado reforça a ideia de que as regiões tropicais estão entre as mais vulneráveis às mudanças climáticas, mesmo sendo, paradoxalmente, algumas das menos estudadas nesse contexto.
Fleischmann afirmou que os efeitos dessa elevação de temperatura não se limitam à vida aquática. As comunidades que dependem da pesca e da água dos lagos para sobreviver enfrentam perdas econômicas e escassez de alimento. Ele defende a criação de programas permanentes de monitoramento e a participação direta das populações locais — indígenas, ribeirinhos e afrodescendentes — na busca por soluções sustentáveis.

Pesquisas recentes publicadas na revista Hydrological Processes apontam que secas intensas alteram de forma significativa a temperatura dos rios. Durante esses períodos, a radiação solar é mais forte, o volume de água é menor e a correnteza desacelera, aumentando o aquecimento. O professor David Hannah, da Universidade de Birmingham, explicou que esse processo pode afetar espécies inteiras e comprometer ecossistemas completos.
Os cientistas alertam que o que aconteceu em Tefé não foi um evento isolado. No ano seguinte, a Amazônia enfrentou outra seca recorde, mostrando que essas ocorrências estão se tornando mais frequentes e prolongadas. Ayan Fleischmann afirmou que levará esses dados à COP30, no Brasil, para pressionar por políticas globais voltadas à proteção dos ecossistemas amazônicos.
O caso do lago Tefé revelou, de forma contundente, o quanto o calor extremo pode alterar a vida em um dos biomas mais ricos do planeta — um lugar onde o equilíbrio entre a floresta, os rios e as comunidades depende, cada vez mais, da capacidade humana de entender e conter os efeitos do clima.
Esse Centenas de botos-cor-de-rosa são encontrados mortos em lago na Amazônia após a água ficar mais quente que uma jacuzzi foi publicado primeiro no Misterios do Mundo. Cópias não são autorizadas.
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