Aqui você encontra as informações mais interessantes e surpreendentes do mundo

Aqui você encontra as informações mais interessantes e surpreendentes do mundo

Curiosidades

Brasil carece de visão sistêmica para o desenvolvimento da IA, diz pesquisador

Apesar da popularidade da IA entre os brasileiros, o desenvolvimento da IA no Brasil ainda não teve o seu grande momento. Para o coordenador do Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getúlio Vargas (CTS-FGV), Luca Belli, o país ainda carece de uma visão sistêmica para garantir um avanço neste campo e reduzir sua dependência de soluções estrangeiras. 

Em entrevista ao Canaltech nesta sexta-feira (18), durante o CPDP LatAm 2025 organizado pela FGV Direito Rio, o pesquisador relembrou de avanços recentes, como o “boom” do DeepSeek no começo do ano. 

“Esse é o resultado de quase 15 anos, de política industrial, de organização sistêmica para chegar a esse tipo de produto”, disse. 


Entre no Canal do WhatsApp do Canaltech e fique por dentro das últimas notícias sobre tecnologia, lançamentos, dicas e tutoriais incríveis.

Para ele, tanto a estreia do DeepSeek quanto a evolução tecnológica das últimas décadas nos Estados Unidos são frutos de uma política industrial, com um “investimento pesado” na capacitação, na pesquisa, no desenvolvimento e também na transformação da pesquisa e desenvolvimento em produtos. 

“O problema que temos aqui no Brasil é que ainda não temos essa visão sistêmica”, observou.

Isso ocorre mesmo com o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), investimento de R$ 23 bilhões até 2038 do governo para alavancar a soberania do país no campo da IA. Belli observa que faltam metas de longo prazo, eixos de coordenação e até mesmo preocupação com a cibersegurança na iniciativa.

Brasil carece de visão sistêmica para o desenvolvimento da IA, aponta pesquisador (Imagem: Divulgação/cottonbro studio/Pexels)
Brasil carece de visão sistêmica para o desenvolvimento da IA, aponta pesquisador (Imagem: Divulgação/cottonbro studio/Pexels)

Dependência estrangeira

O Brasil vive conectado, mas plataformas de poucos grupos se destacam. A pesquisa “Panorama Mobile Time/Opinion Box – Uso de apps no Brasil” de abril de 2025 mostra que o WhatsApp, Instagram e Facebook são os três apps mais populares na homescreen dos brasileiros.

Ao todo, de dez aplicativos presentes no ranking, apenas uma plataforma brasileira aparece na lista.

À reportagem, o coordenador observa que boa parte dos brasileiros se conecta por meio de redes sociais da Meta, como o Instagram e WhatsApp, sem acesso pleno à Internet devido ao custo elevado de conexão.

“A maioria das pessoas estão conectadas somente por redes sociais. O que significa? Que elas usam simplesmente o Meta IA. Elas treinam a cada dia o Meta IA com os seus dados e são treinadas a pensar que o Meta IA é a única IA”, pontua. 

O fenômeno também tem impacto no avanço de soluções brasileiras. Para ele, o plano bilionário para construir capacidade computacional e algorítmica tende a não produzir o resultado esperado, considerando que a maioria das pessoas e empresas vão continuar a usar somente a opção estrangeira pela falta do pensamento sistêmico.

O mesmo ocorre com serviços que vão além de redes sociais, como pacotes de produtividade que agregam tanto editores de texto, planilha e apresentações, e que ainda contam com sistemas de IA embutidos.

“Somos totalmente dependentes desse tipo de empresas, desse tipo de pacote. Alguns deles são apresentados como gratuitos, e, na verdade, o preço pago é com dados pessoais”, pontua “Mas a maioria desses pacotes, por exemplo, são pagos. Não é uma opção barata para o país ou pessoas.”

O professor da FGV, nesta situação, ressalta a importância da soberania digital ao desenvolver soluções próprias.

Ele também lembra que ter autonomia não significa ser isolado e usar somente a sua própria tecnologia, mas ter escolhas

“Se alguém tem a escolha, tem a sua própria tecnologia, utiliza a tecnologia chinesa, americana ou europeia”, observa. “No momento no qual alguém que fornece aquela tecnologia começa a impor condições que são inaceitáveis, você tem a possibilidade de dizer: ‘desculpa, mas vou utilizar uma outra alternativa’.”

Falta de soluções próprias e dependência estrangeira coloca o Brasil em risco (Imagem: Unsplash/Elizabeth Woolner)
Falta de soluções próprias e dependência estrangeira coloca o Brasil em risco (Imagem: Unsplash/Elizabeth Woolner)

Riscos da dependência

A preocupação vai além do custo, diante dos riscos de eventuais embargos

“Essa possibilidade que a dependência de tecnologia americana ou de qualquer outro país fosse utilizada como uma ‘arma’ para aplicar pressão e obrigar países ou corporações a fazer determinadas escolhas porque estão explorando essa dependência, é algo já muito visível na primeira administração Trump”, destaca.

Para exemplificar, ele relembra o embargo da Huawei, que perdeu o protagonismo global após sanções aplicadas pelos Estados Unidos. Diante desse cenário, a chinesa criou um sistema próprio, o HarmonyOS, que substituiu o Android em seus dispositivos.

Outro caso extremo ocorreu neste ano, com o Procurador Geral da Corte Internacional de Justiça, que perdeu acesso ao e-mail do trabalho, hospedado no Outlook, depois que foi pessoalmente sancionado pelo governo americano ao emitir uma ordem de apreensão contra o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.

“Da noite para o dia, ele ficou sem possibilidade de se comunicar”, pontua o coordenador. “Isso é algo que teoricamente poderia acontecer para cada um de nós. Digamos que sancionar uma pessoa é muito mais simples. Sancionar um país tem um custo comercial bem maior. Então, existe o risco? Existe.”

É o caso do Brasil, que possui uma economia muito relevante e representa uma enorme fatia do mercado para essas empresas. Dessa forma, uma ação neste sentido poderia colocá-las em uma posição delicada, reduzindo as chances de um embargo contra o país.

Por outro lado, o risco não é nulo e a falta de alternativa deixa o Brasil vulnerável.

Brasil já foi pioneiro na adoção de software livre (Imagem: Reprodução/Freepik)
Brasil já foi pioneiro na adoção de software livre (Imagem: Reprodução/Freepik)

De pioneiro ao último lugar

O Brasil teve uma grande atuação no campo do software livre no passado. Nesta seara, soluções open source foram adotadas no passado, como ocorreu com a Petrobras ao substituir o Microsoft Office pelo BrOffice.org em 2011

Na conversa com o Canaltech, o professor relembra que o Brasil foi pioneiro no campo da autonomia tecnológica por meio do software livre em 2003. O país, no entanto, enxergou a solução como algo que deveria ser adotado, não algo que deveria ser construído.

Neste caso, o Brasil estimulou a adoção, mas não virou um desenvolvedor. Ao contrário da China e da Índia, que viram a iniciativa como uma estratégia de soberania industrial e para estimular o mercado local. 

“A gente perdeu o bonde”, diz. “Podia ser a nossa estratégia se a gente tivesse organizado essa visão de software livre nos últimos 20 anos, como um estímulo para a indústria local, ao invés de considerá-lo simplesmente como uma adoção, sem enxergá-lo como algo de essencial para a indústria nacional.”

Confira outras matérias do Canaltech:

VÍDEO: Por que tudo agora tem Inteligência Artificial gratuita? É de graça mesmo? E a paga?

Leia a matéria no Canaltech.

O que achou dessa notícia? Deixe um comentário abaixo e/ou compartilhe em suas redes sociais. Assim conseguiremos informar mais pessoas sobre as curiosidades do mundo!

Esta notícia foi originalmente publicada em:
Fonte original

augustopjulio

Sou Augusto de Paula Júlio, idealizador do Tenis Portal e do Curiosidades Online, tenista nas horas vagas, escritor amador e empreendedor digital. Mais informações em: https://www.augustojulio.com.