Artista que permitiu que as pessoas “fizessem qualquer coisa com ela” explicou como chegaram a “beber seu sangue” durante a performance

Marina Abramović construiu uma reputação mundial ao transformar o próprio corpo em território artístico. Hoje, aos 78 anos, a artista sérvia continua sendo associada a episódios extremos que marcaram a história da performance. Entre eles está um momento que ainda causa espanto: um participante de uma apresentação chegou a beber seu sangue diante do público.

A artista tinha apenas 23 anos quando apresentou “Rhythm 0”, em 1974. A obra consistia em permanecer imóvel por seis horas enquanto qualquer pessoa presente podia interagir com ela usando 72 objetos dispostos sobre uma mesa. Havia itens inofensivos, como flores, maçãs e perfumes, mas também ferramentas perigosas, como lâminas, facas e até uma arma.

A dinâmica era simples: Marina não se moveria, não reagiria e não impediria o que fosse feito com ela. O público iria definir o rumo da experiência.

Marina Abramović arriscou a própria vida com “Rhythm 0” em 1974 (Marina Abramovic Institute)

Com o passar das horas, a situação ficou mais tensa. Roupas foram retiradas, cortes começaram a aparecer na pele e o clima na sala se tornou imprevisível. Quando o período chegou ao fim, o estado físico da artista era visivelmente crítico. Ela relata que voltou ao hotel coberta de sangue e exausta. Ao se olhar no espelho, notou um fio de cabelo que havia ficado grisalho durante a apresentação.

Anos depois, Marina contou ao jornalista Louis Theroux que, naquele dia, alguém chegou a fazer um corte em seu pescoço e beber o sangue que escorria. O relato surgiu durante uma conversa para o podcast The Louis Theroux Podcast, no qual ela falou abertamente sobre o impacto que aquele trabalho teve em sua vida.

Ela afirmou não ter pensado no que o público sentiria ou pensaria. “Eu estava muito brava”, disse, lembrando que sua única determinação era permanecer imóvel até o fim. Segundo Marina, ela aceitava completamente as consequências: “Eu me coloquei lá e dei minha vida para essa ideia. Havia objetos para prazer e para dor. Seis horas, sem me mover”.

Marina continua firme após realizar diversas performances ousadas ao redor do mundo

A artistas sempre soube que o risco era real. Disse que era plenamente consciente de que “o público podia me matar”. No entanto, só décadas depois percebeu que esse poder destrutivo também pode surgir de maneiras silenciosas, sem violência explícita.

Com o tempo, sua relação com a presença do público mudou. Em outras obras, ela passou a restringir totalmente o contato físico, criando ambientes nos quais a única interação possível era o olhar compartilhado. Para ela, essa troca silenciosa provocou transformações profundas em sua forma de trabalhar.

Mesmo após tantos anos de carreira, Marina declarou que nunca buscou transformar suas obras em objetos comerciais e que seu foco sempre esteve na experiência humana. Segundo ela, seu caminho artístico não foi guiado pelo lucro. Foi moldado, literalmente, por sangue, suor e resistência corporal.

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