Entenda as consequências socioambientais das modas gastronômicas
Nos últimos anos, o universo gastronômico tem sido movido por modas que vão muito além do sabor. Ingredientes como pistache, matcha e quinoa ganharam status de luxo e saúde, mas por trás do glamour e da promessa de bem-estar, escondem-se impactos ambientais e sociais profundos.
O chocolate de Dubai é o símbolo mais recente dessa sofisticação alimentar. Com recheio de creme de pistache e fios crocantes de kadayif, a barra pode custar até R$ 300. Desde que se tornou um objeto de desejo mundial, a demanda por pistaches explodiu. Em 2024, as importações da União Europeia cresceram mais de um terço, ultrapassando a marca de 1 bilhão de euros.
O motivo pelo qual essas trends acontecem e a psicologia por trás das modas gastronômicas, a Super já explicou aqui. Mas, depois que essas febres pegam, o que acontece com o local em que os alimentos são cultivados?
Esse boom de comidas na moda tem transformado paisagens agrícolas. Na Espanha, principal produtora europeia de pistache, as áreas de cultivo quintuplicaram desde 2017.
Embora o pistache seja considerado uma alternativa adaptável às mudanças climáticas, sua produção exige enorme consumo de água – mais de 10 mil litros por quilo – agravando a escassez hídrica em regiões áridas. Em comparação, são necessários em média pouco menos de 2.800 litros para produzir um quilo de amendoim – e quase 90% da água necessária vem da chuva.
Além disso, o cultivo intensivo em monoculturas aumenta o uso de fertilizantes e pesticidas, sem contar na degradação do solo, o esgotamento de nutrientes da terra, o desmatamento para abrir novas áreas de plantio e a vulnerabilidade a pragas e doenças específicas.
Outro exemplo vem do Japão, onde o matcha – um chá verde em pó fino tradicionalmente usado em cerimônias do chá – atravessou as barreiras orientais e se popularizou rapidamente entre os jovens do ocidente como um “superalimento”.
O chá já faz parte de receitas de bolo, nhoque e crepioca. Recentemente, o vício pelas bebidas e o consumo excessivo do pozinho verde foi indicado como um possível responsável por diagnósticos de deficiência de ferro no organismo.
De acordo com a Associação Alemã de Chá, mais de 240 toneladas de matcha foram entregues somente na Alemanha entre janeiro e agosto de 2024 – um aumento de 240% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Com isso, os produtores japoneses enfrentam escassez do produto, e os consumidores locais, que mantêm o uso cultural do matcha, sofrem com a falta e o aumento de preços.
O caso da quinoa segue a mesma lógica. Originária dos Andes, foi promovida pela ONU em 2013 como símbolo de segurança alimentar.
Também transformada em “superalimento” ocidental, a demanda internacional fez os preços dispararem em Peru e Bolívia, tornando o alimento básico inacessível para as populações locais. Além disso, a pressão por produtividade levou ao uso excessivo de fertilizantes e à erosão do solo, comprometendo ecossistemas inteiros.
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