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Curiosidades

Por que o Nintendinho é o console mais importante da história dos videogames?

O ano é de 1985 e você está em um sábado ensolarado qualquer, com um controle de videogame nas mãos e um Nintendinho na sua frente. Ao pegar a fita do Super Mario Bros. e encaixar na plataforma, uma surpresa: não iniciou. Porém, não tem problema. O truque já era manjado, bastava removê-la, assoprar a parte do chip do cartucho e encaixá-la novamente.

Agora deu certo! O menu inicial aparece, com todo o cenário 8-bits e a questão: você vai jogar sozinho ou com algum amigo? Independentemente da opção selecionada, em poucos instantes você vê o icônico “World 1-1” na tela, a imagem do encanador com quantas vidas você tem e aquela música que se tornou um verdadeiro clássico da indústria gaming.

Quem teve um Nintendinho, seja em 1985 ou qualquer outra época, pode se lembrar muito bem deste tipo de situação e da sensação que traz. Porém, o console da Big N é muito mais do que apenas uma memória afetiva ou um dos responsáveis por uma infância cheia de diversão. Sua existência mudou a indústria gaming e definiu diversos padrões que carregamos até hoje.


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Nós do Canaltech vamos explicar aqui como o Nintendinho se transformou no console mais importante da história dos videogames. Revolucionário, disruptivo e com várias ideias que moldaram todo o mercado, ele estabeleceu o sucesso dos consoles fora do Japão e criou uma nova forma que esta mídia conversava com o seu público.

Imagem do NES
O Nintendinho não fez parte só da sua história, mas de todos os consoles atuais (Imagem: Divulgação/Nintendo)

A tragédia de 1983

Antes de falarmos do Nintendinho, é bom compreender o cenário que a indústria gaming vivia. O NES não foi o primeiro console a existir, diversos outros fizeram sucesso antes dele — como o Atari Pong e o Atari 2600, que marcaram a infância de muita gente que hoje está com dores na coluna e precisando fazer um check-up urgentemente. 

Porém, ao mesmo tempo que estes consoles e títulos como Frogger, Enduro, Pitfall, Pac-Man e outros conquistavam toda a criançada, um excesso de jogos e consoles de qualidade duvidosa (qualquer semelhança com o que vemos atualmente é mera coincidência) saturava o mercado.

Mesmo com a existência de jornais e revistas, muitos não tinham acesso a debates mais aprofundados sobre games. Vamos ser honestos, fim dos anos 1970 e início dos anos 1980 não tinha redes sociais, smartphones e outras fontes de informação “ágeis”. Havia o boca-a-boca e o que os pais sabiam era que muitos dos jogos e consoles não prestavam. 

Imagem de ET The Extra-Terrestrial
A indústria já não andava bem, aí veio E.T. e a situação desandou de vez (Imagem: Reprodução/Atari)

Varejistas e consumidores viam os videogames como moda passageira e que já não dava mais para se confiar. Algo que surgiu como uma febre para as crianças, mas que logo morreria. E então veio a Atari com E.T. the Extra-Terrestrial no ano de 1983 para minar em definitivo tudo o que tinha sido construído até ali.

Você deve conhecer a história, mas vamos resumir para quem chegou desavisado por aqui: o jogo adaptava o clássico filme de Steven Spielberg, com uma forte campanha de marketing e a imagem do carismático personagem estampando tudo. Com diversos bugs, mecânicas ruins e nada que parecesse o longa-metragem, o flop veio forte. 

Imagina o peso do fracasso de um GTA 6 hoje em dia, era basicamente isso com E.T the Extraterrestrial nos “bons e velhos tempos”. O resultado disso foi o “crash dos videogames” no ano de 1983 — que afundou a Atari (que tenta voltar até os dias atuais) e tirou de vez a confiança do público nos consoles de mesa. 

O surgimento do Nintendinho

No mesmo ano, a japonesa Nintendo, que trabalhava de forma mais “tímida” no mercado, decidiu lançar mais um videogame. A companhia já tinha tentado entrar neste mercado, com o Color TV-Game e com os portáteis Game & Watch, mas sem uma presença muito marcante ou fãs fervorosos

Não é de se estranhar, levando em consideração que ela começou suas atividades vendendo cartas de Hanafuda para a máfia do Japão e decidiu subitamente entrar no mercado de desenvolvimento de jogos eletrônicos. Quem era ela na fila do pão? Não é porque um tal de Donkey Kong virou uma sensação que eles iam emplacar, certo? 

Imagem de Donkey Kong
A Nintendo era apenas “mais uma” apostando nos videogames nessa época (Imagem: Divulgação/Nintendo)

O Nintendinho, que foi lançado em 1983, na verdade tinha uma proposta única que desafiou os conceitos que muitos tinham sobre os videogames. Começa que ele não se vendia como um “console de mesa”, mas sim como um sistema de entretenimento (NES é uma sigla para Nintendo Entertainment System, caso desconheça seu significado).

Desta forma, lojistas tinham em suas mãos um aparelho que não era um videogame da forma como eles entendiam. Mesmo que fizesse a mesma coisa que o Atari 2600 e outros, apenas a ideia diferenciada foi o bastante para que abrisse uma exceção e apostasse neste dispositivo. Talvez fosse a próxima febre, não é? Caíram os videogames e surgiriam os sistemas de entretenimento.  

Além disso, a Nintendo autenticava as experiências que valiam a pena com um selo de qualidade — uma certificação que era benéfica para os lojistas e consumidores. Assim, garantiam que seus títulos possuíam um padrão mínimo de qualidade e que as chances do público gostar da experiência seriam muito maiores do que as vistas nos videogames do passado. 

Sem internet acessível, redes sociais, smartphones ou a atenção da grande mídia convencional, pais, crianças e até as lojas precisavam que alguém dissesse que os jogos eram bons. E o Selo de Qualidade Nintendo dava essa segurança, como se fosse uma “blindagem de jogos ruins”. 

Imagem de Super Mario Bros.
O selo de qualidade da Nintendo era um certificado de que não teria uma experiência ruim (Imagem: Divulgação/Nintendo)

Era a estratégia de marketing perfeita, tanto o selo de qualidade quanto o uso da nomenclatura “sistema de entretenimento”. Porém, não bastava para essa companhia japonesa. Eles queriam entrar onde os videogames sequer pisaram, conquistando um mercado que era inexplorado pelas outras companhias no passado.

Se víamos acessórios como pistolas para o Atari 2600, a Big N seguiu o caminho oposto e inventou o Robotic Operating Buddy. Ou R.O.B., para soar mais carismático. Ele era um robô com um design amigável, criado para ajudar o público em jogos cooperativos – o que chamava bastante a atenção na época. 

Porém, na verdade o tal do R.O.B. era um verdadeiro “Cavalo de Troia”. Ele servia para que lojas de brinquedos vissem o Nintendinho com outros olhos, o que garantiu a presença do console de mesa em um mercado mais amplo do que os vistos no passado pelas demais fabricantes

Imagem de R.O.B.
Muitos hoje conhecem R.O.B. apenas pela sua participação em Super Smash Bros. (Imagem: Divulgação/Nintendo)

Era a estratégia perfeita, principalmente se levar em consideração que o R.O.B. era um auxiliar muito ruim. Relatos apontam que era mais vantajoso que a criança usasse dois controles simultaneamente, mas até perceberem isso o estrago já tinha sido feito: o NES estava presente em todos os lugares, com ou sem o acessório.

O lar das franquias imortais

Claro que só quebrar conceitos não funciona dentro da indústria gaming, com o Nintendinho mostrando que veio fazer a diferença também em seus jogos. Se o “Selo de Qualidade Nintendo” significava algo, era graças a sucessos que se tornaram franquias imortais e nomes colossais que seguem presentes até as plataformas mais recentes. Entre elas, tivemos:

3. Super Mario Bros.

Imagem de Super Mario Bros.
Não é possível falar de NES sem citar Super Mario Bros. (Imagem: Divulgação/Nintendo)

Um dos maiores sucessos da Nintendo, Super Mario Bros. foi revolucionário à sua própria forma em 1985. Ele apresentou diversos conceitos e ideias que mudaram, definitivamente, tudo o que sabíamos e conhecíamos dos jogos 2D side-scrollers. O carisma do protagonista, a variedade de ambientes das fases e todo o cenário 8-bit conquistaram o mundo todo.

2. The Legend of Zelda

Reprodução/Nintendo
Mundo aberto sempre foi presente em The Legend of Zelda (Imagem: Reprodução/Nintendo)

O inventor do conceito de mundo aberto, The Legend of Zelda oferecia um mapa completo para ser explorado e de forma não-linear em 1986. Outra inovação presente nele era a presença de uma bateria no cartucho, que permitia salvar seus dados e alongava a aventura — algo completamente distinto do que era visto nos fliperamas. 

1. Metroid

Imagem de Metroid
Metroid impressionou muitos jogadores de várias formas diferentes (Imagem: Reprodução/Nintendo)

Fugindo do conceito “infantil” e “colorido”, Metroid surpreendeu por apresentar uma atmosfera sombria e solitária em 1986. Ele permitia que você explorasse todo o mapa em plataforma de forma não-linear, o que acabou gerando um novo gênero dentro da indústria gaming: o metroidvania. Além disso, ele revolucionou por trazer a primeira grande protagonista feminina nos games.

Nintendinho e seu rico catálogo

Imagem dos jogos Nintendinho
No Nintendinho nasceram diversas franquias (Imagem: Reprodução/Canaltech)

E se você acredita que o NES foi o lar apenas de grandes nomes para a Nintendo, está cometendo um grave engano. Foi nele que vimos surgir títulos que se tornaram consagrados e aclamados por décadas: Final Fantasy, Castlevania, Mega Man, Ninja Gaiden, Dragon Quest e vários outros também deram os seus primeiros passos ali.

As inovações do NES

A Nintendo dominava no marketing e nos jogos, o que garantiu o seu sucesso. Claro que seus recursos também tinham de chamar a atenção, até para dar suporte a toda a estratégia criada em seu conceito — afinal de contas, era o momento e a chance de ouro para transformarem ele em um sucesso.

O primeiro é relacionado aos controles, com a primeira aparição do D-Pad nos periféricos. O conceito foi criado por Gunpei Yokoi e era similar à uma cruz no Nintendinho — um design muito mais preciso e confortável do que o visto nos videogames do passado, o que ganhou uma grande popularidade.

A ideia foi tão boa e revolucionária que segue nos consoles até as gerações mais recentes. Basta olhar nos controles do PS5 e Xbox, que mantém o conceito e não parecem estarem tão próximas de abandoná-lo. Ainda que o Nintendo Switch e o Switch 2 tenham alterado o seu design, a proposta ainda existe em suas plataformas. 

Imagem do Controle DualSense
O design em cruz do D-Pad continua, mesmo 40 anos depois do lançamento do NES (Imagem: Divulgação/Sony)

O hardware do Nintendinho possuía limitações, mas isso não era um problema para os desenvolvedores. O suporte a uma paleta com pouquíssimas cores e uma memória minúscula obrigou os desenvolvedores a serem criativos dentro de seus jogos. 

Para chamar a atenção, valia tudo: trazer um design diferenciado para os seus personagens, criar músicas que forçavam o chip de som da plataforma via chiptune e trazer mecânicas que compensariam estes limites que moldaram essa geração. Mesmo que o NES tivesse rivais, nenhum ia tão longe quanto eles e isso garantiu a sua importância neste “renascimento”. 

Através de tudo isso, em conjunto, foi comprovado por lojistas e pelo próprio público que a experiência entregue pela Nintendo era muito diferente da vista nos fliperamas. Não era um substituto, mas sim uma evolução. Enquanto nos arcades você tinha apenas uma ficha e um sonho, os consoles domésticos traziam uma verdadeira jornada ao seu alcance.

Não que um fosse melhor do que o outro, mas com toda a certeza o que o Nintendinho oferecia era mais profundo do que o público encontrava em outras máquinas. E tudo isso no conforto do seu lar. Isso impactou bastante a indústria gaming, que passou a ver tudo o que foi construído ali com outros olhos — já distantes e esquecidos da tragédia com a Atari e a saturação de mercado. 

O Nintendinho e os Famiclones no Brasil

O videogame nunca foi um dispositivo popular, um eletrônico do “povo”, nem lá fora e muito menos no Brasil. Se nos Estados Unidos o preço do NES era de US$ 179, aqui no território nacional ele aterrissou por Cr$ 333 mil (importado) — mais de 4 vezes o valor do salário mínimo daquela época

Então como todos jogaram Super Mario Bros., The Legend of Zelda, Kirby e outros clássicos de forma tão ampla no país? Simples, caros leitores, foi o surgimento dos Famiclones: réplicas do Nintendinho (da versão japonesa) que foram produzidas por muitas fabricantes de eletrodomésticos de nosso país.

Imagem do Phantom System
No Brasil tivemos uma infestação de Famiclones (Imagem: Reprodução/Gradiente)

A Gradiente, por exemplo, trouxe ao mercado o Phantom System. A Dynacom, especializada em produzir clones de videogames famosos, também trouxe oficialmente ao Brasil o seu Dynavision. A Dismac também lançou por aqui o Bit System. Todos eles rodavam os cartuchos de NES, o que tornou mais acessível todas as experiências da Big N ao público.

Fora do ambiente das importações, o Nintendinho chegou oficialmente ao Brasil em 1993, através da Playtronic (uma parceria entre a Estrela e a Gradiente) — ao lado do Super Nintendo. Isso reforçou a presença da companhia e dos seus maiores games no nosso mercado, além de criar uma base fiel de fãs que perdura até os dias atuais.

Nintendinho: o legado

É importante ressaltar que o NES não foi apenas “mais um” videogame, ele foi o grande responsável pela ressurreição da indústria de consoles domésticos e estabeleceu todas as bases modernas para as plataformas que temos hoje. 

O Nintendinho foi um verdadeiro evento, trazendo um mix de uma excelente campanha de marketing, ideias inovadoras e games de qualidade em conjunto — o que foi um verdadeiro estouro para o mercado, público e para a forma como enxergamos toda essa indústria.

Ele definiu os padrões que permanecem até os dias atuais, o que é mais do que o suficiente para ganhar o título de um dos consoles mais revolucionários de todos os tempos. Os seus aspectos mais nostálgicos que são a base de tudo o que temos hoje, algo que pouquíssimos conquistam ao longo de sua existência.

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augustopjulio

Sou Augusto de Paula Júlio, idealizador do Tenis Portal e do Curiosidades Online, tenista nas horas vagas, escritor amador e empreendedor digital. Mais informações em: https://www.augustojulio.com.