Vargeão: a cidade brasileira que abriga cratera rara formada por asteroide há 80 milhões de anos
No interior de Santa Catarina, a pequena cidade de Vargeão, com pouco mais de 3.600 habitantes, repousa sobre uma das mais raras estruturas geológicas do Brasil: uma cratera de impacto formada por um asteroide que atingiu a área entre 80 e 100 milhões de anos atrás, durante o período Cretáceo. Com 12 quilômetros de diâmetro e desníveis de até 150 metros, a formação é conhecida como Domo de Vargeão.
A origem da cratera foi reconhecida em estudos iniciados na década de 1970. Desde então, as evidências se multiplicaram. Segundo o geólogo Álvaro Penteado Crósta, professor da Unicamp, a rocha espacial media cerca de 550 metros e liberou energia equivalente a 500 mil bombas nucleares como a de Hiroshima.
“O que nos indica que ali ocorreu o impacto é a transformação nas rochas do local. É uma rocha vulcânica chamada basalto. Embaixo dela tem outra rocha sedimentar, que são arenitos, e todas elas têm deformações de alta pressão e temperatura, que são características dos processos de impacto”, explicou Crósta ao G1.
No Brasil, apenas cinco estruturas são hoje oficialmente reconhecidas como astroblemas – crateras geradas por impacto de meteoritos e já bastante erodidas, conforme definição do geólogo Robert Dietz. Vargeão integra essa lista restrita, elaborada pela Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (Sigep), vinculada ao governo federal.
Apesar de seu valor geológico, a preservação do Domo enfrenta desafios. A ocupação humana intensificou-se a partir do início do século 20, quando o avanço da agricultura e da pecuária levou à substituição da vegetação nativa por lavouras, pastagens e reflorestamentos. Com o tempo, o centro da cratera passou a ser explorado também para fins comerciais, sobretudo pela abundância de areia usada na construção civil.
Essa exploração deu origem a diversas cavas – escavações abertas no solo para retirada de sedimentos – que, em sua maioria, funcionaram sem qualquer tipo de controle ambiental. Muitas dessas áreas foram abandonadas, encontram-se hoje alagadas e apresentam riscos de desmoronamento.
O maior ponto de extração em operação é o Areial Ghisolfi, uma área de mineração situada no interior do domo, com escavações que atingem dezenas de metros de profundidade. Além da areia, outras rochas presentes na estrutura, como basaltos, pórfiros e brechas de impacto, também são retiradas, ainda que em menor escala. Após serem fragmentadas, são aplicadas no revestimento de estradas rurais, por sua resistência mecânica.
No entanto, esse tipo de atividade, somado à ausência de políticas de proteção, compromete a integridade dos afloramentos geológicos mais importantes do domo – justamente aqueles que oferecem as evidências mais visíveis do impacto ocorrido há milhões de anos.
Apesar desse cenário, a valorização científica e cultural da cratera vem ganhando força. A população local demonstra crescente conscientização sobre a relevância do sítio, que passou a ser promovido como símbolo da cidade.
Vargeão adotou oficialmente o lema “Cidade do Meteoro” e tem investido em ações voltadas à educação científica e ao turismo de natureza.
Um dos marcos dessa iniciativa é a torre de observação construída às margens da BR-282, que permite aos visitantes uma vista panorâmica da borda da cratera e de sua topografia interna.
No coração do domo está o chamado Areal, uma área onde a força do impacto trouxe à superfície materiais que estavam a mais de 700 metros de profundidade. Entre eles, camadas de argila e areia que ajudam a contar a história do evento cósmico.
Parte desse material tem sido usada em pesquisas acadêmicas e também integra o acervo do museu municipal, que reúne amostras de rochas e documentos sobre a origem e o significado do astroblema.
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