Vacina brasileira contra zika tem bons resultados em testes com camundongos
Há dez anos teve início o maior surto de vírus zika já registrado no Brasil. O País entrou em estado de emergência por causa do aumento de nascimentos de bebês com microcefalia, casos associados à infecção do vírus durante a gestação.
Desde então a situação foi majoritariamente controlada, mas a febre zika ainda é um risco real – e não existe nenhum antiviral específico para tratamento ou vacina para imunização. O máximo que podemos fazer no campo da prevenção é se proteger do mosquito Aedes aegypti, que transmite o vírus. Mas, felizmente, esse cenário pode mudar em breve.
Pesquisadores do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram uma nova vacina contra o vírus zika que se demonstrou segura e eficaz em testes realizados com camundongos.
A vacina não só teve sucesso em induzir a resposta imune contra o vírus como também protegeu os ratinhos de qualquer dano cerebral ou testicular associado à infecção com o ZIKV (o nome do vírus). É um passo importante, ainda que inicial, na direção de um possível imunizante disponível para humanos.
Os testes da vacina foram divulgados num artigo publicado no periódico científico npj Vaccines. A pesquisa recebeu financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, a FAPESP.
Como funciona a vacina
A vacina brasileira contra o zika se baseia na tecnologia de partículas pseudovirais, conhecidas pela sigla VLPs (do inglês viral-like particles, partículas semelhantes ao vírus). Ela é diferente das vacinas mais tradicionais, que usam o próprio vírus inativo ou atenuado para acionar a resposta imunológica. Nesta tecnologia, quem faz o papel do patógeno são as VLPs, moléculas bastante parecidas com vírus, que podem tanto ser naturais quanto sintetizadas – e que não têm a capacidade de causar uma infecção viral.
Isso porque, numa vacina feita com partículas pseudovirais, não se usa exatamente o material genético do patógeno (nesse caso, o ZIKV), o que garante um desenvolvimento vacinal mais seguro e econômico. Esses imunizantes são compostos por uma partícula carreadora, a VLP, que faz o sistema imunológico reconhecer a presença de um vírus, e o antígeno viral, que estimula os glóbulos brancos a produzir anticorpos específicos para impedir a entrada do agente da doença nas células.
A partícula pseudoviral usada na vacina contra o zika foi a QβVLP, que imita a estrutura de um vírus e é reconhecida pelo sistema imunológico como um. O antígeno usado é chamado de EDIII, que é uma parte da proteína do envelope do vírus zika que se conecta a um receptor nas células humanas. Com isso, a equipe conseguiu criar uma vacina funcional e bem-sucedida nos testes com roedores.
Os testes foram realizados com camundongos geneticamente modificados para serem mais suscetíveis ao vírus zika. A vacina conseguiu induzir a produção de anticorpos contra o ZIKV e impediu o surgimento de qualquer sintoma pela infecção.
Um dos grandes desafios de desenvolver uma vacina contra o zika é o risco de reação cruzada: o ZIKV é muito parecido com os quatro sorotipos do vírus da dengue. Confundir um patógeno com o outro pode parecer bom, como uma espécie de proteção dupla – mas não é assim que funciona. Se os anticorpos produzidos não são fortes o suficiente para evitar uma segunda infecção por outro sorotipo de dengue, eles podem se associar ao vírus e infectar as células com mais facilidade. O tiro sai pela culatra.
Felizmente, não é o que acontece com a vacina de VLP. Esse imunizante não provoca reação cruzada: estudos anteriores já tinham comprovado que o antígeno EDIII incentiva a produção de anticorpos específicos para o vírus zika, sem correr o risco de se confundir com os sorotipos da dengue. Agora, pesquisas futuras precisam testar o imunizante com humanos, ou seja, ainda há um longo caminho de testes.
A evolução do movimento antivacina
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