O que é um jogo hack and slash?
Os jogos do gênero hack and slash ainda hoje despertam nostalgia em muitos jogadores. Seu auge foi na era do PlayStation 2, com clássicos como God of War, Devil May Cry e Onimusha, que marcaram época com combates intensos e estilizados. No entanto, o estilo surgiu bem antes desses títulos icônicos. Afinal, o que define um jogo hack and slash e por que ele se mistura tão facilmente com outros gêneros?
O termo hack and slash, que pode ser traduzido livremente como “cortar e golpear”, tem origens curiosas. Ele surgiu no universo dos RPGs de mesa, como Dungeons & Dragons, sendo usado pela primeira vez em 1980 em um artigo da revista Dragon. Na época, era uma forma de descrever campanhas centradas apenas em combate, sem foco narrativo ou desenvolvimento de personagens.
Nos videogames, o termo evoluiu. Inicialmente associado aos clássicos do gênero beat ‘em up — os populares “briga de rua”, como Final Fight e Golden Axe — o hack and slash passou a se referir a jogos com combate corpo a corpo intenso. Com o tempo, foi se consolidando como sinônimo de títulos com foco em ação acelerada, combate com armas brancas, múltiplos inimigos na tela e uma jogabilidade estilizada.
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Como funciona um jogo Hack and Slash?
Os jogos hack and slash são um subgênero de ação e aventura, e muitos os consideram uma ramificação direta dos beat ‘em ups por suas origens.

As principais características desse estilo são o combate corpo a corpo em tempo real — normalmente com armas brancas como espadas — e o combate em massa com ação visceral. Nesse tipo de jogo, a história e os objetivos são fatores secundários. Apesar de existirem muitos jogos hack and slash com narrativas fantásticas, esse não é o foco do gênero.
Outra característica essencial dos jogos do estilo são as hordas de inimigos. Não espere duelos 1 contra 1 ou algo parecido: você enfrentará adversários por todos os lados, o que intensifica o fator de ação constante. Esse aspecto é ainda mais evidente em jogos do estilo musou, um subgênero considerado um “irmão” do hack and slash.
A progressão de personagens nos hack and slash também evoluiu. Se no início os combates eram mais simples e focados em “esmagar botões”, com o tempo os desenvolvedores adicionaram profundidade aos sistemas de combate por meio de árvores de habilidades, combos e sistemas de pontuação por estilo.
Jogos como Devil May Cry, Bayonetta e Hi-Fi Rush, por exemplo, recompensam o desempenho do jogador com rankings de estilo, incentivando não apenas a vitória, mas a execução técnica dos combos.
Outro aspecto presente em diversos títulos é a progressão por equipamentos e habilidades. Armas podem ser trocadas ou aprimoradas, e novas técnicas são desbloqueadas conforme o jogador avança. Em muitos casos, isso se conecta ao sistema de looting (a coleta de itens) durante a jornada, como em Diablo ou Nioh. Esses itens impactam diretamente a estratégia de combate e a construção do personagem.
Muitos ainda acreditam que, para ser um hack and slash, o jogo precisa ser em 3D — mas isso não é verdade. Qualquer jogo com foco em combate com armas brancas, seja em 2D, realidade virtual ou até mesmo isométrico, pode ser considerado hack and slash ou conter elementos do subgênero.

Em resumo, os jogos hack and slash são definidos por sua ação rápida, foco em combate corpo a corpo, enfrentamento de hordas, uso de habilidades, combos e sistemas de progressão variados.
Embora existam variações dentro do subgênero, esses pilares permanecem constantes — o que muda é a forma criativa como os desenvolvedores os combinam.
Como surgiram os jogos hack and slash?
Depois de entender o que é e como um hack and slash funciona, vamos voltar à origem do estilo, quando os primeiros games começaram a usar combate em tempo real com armas brancas.
Surgimento do hack and slash nos anos 80
A origem do hack and slash divide muitas opiniões. Prince of Persia, jogo de plataforma lançado em 1989 para o NES, é cotado como um dos candidatos mais fortes a estrear o subgênero nos videogames. Outros jogadores apontam para Rush’n Attack, da Konami, como o primeiro hack and slash.
No entanto, é possível eleger The Tower of Druaga — um jogo de labirinto ao estilo Pac-Man, lançado pela Namco para os arcades em 1984, no Japão — como o primeiro hack and slash dos games. Nele, o objetivo é subir os 60 andares da torre de Druaga enquanto enfrentamos cavaleiros, magos e monstros, como slimes.

No mesmo ano, Dragon Slayer, da Nihon Falcom, fazia sua estreia em PCs japoneses da época, trazendo os primeiros elementos do que anos mais tarde conheceríamos como RPG de ação.
Ambos os jogos são pioneiros quando falamos no estilo de combate hack and slash, principalmente por apresentar combate em tempo real e flertar com o gênero de ação constantemente.
Esse período nos anos 80, principalmente após o lançamento de Super Mario Bros. em 1985 (que marcou a recuperação da indústria após a quebra de 1983), foi palco de uma onda de jogos com combate hack and slash, incluindo beat ‘em ups, RPGs de ação e títulos de plataforma. Jogos como The Legend of Zelda, Ninja Gaiden e muitos outros sucessos acabaram incorporando esses elementos de combate em tempo real em suas aventuras.
Apesar de não ser o primeiro, Gauntlet, de 1985, foi um dos hack and slash mais populares na época, principalmente por trazer inovações como multiplayer e elementos de dungeon crawler, outro subgênero muito famoso.
Uma das principais contribuições do jogo foi o seu vasto número de inimigos na tela, o que de fato viria a se consolidar como um dos pilares do estilo no futuro. Isso porque essas hordas de monstros davam uma sensação de ação contínua, o que sabemos que algo primordial para os hack and slash.
Golden Axe, ícone do Mega Drive, foi outro potencializador do gênero, tornando-se uma verdadeira febre no fim dos anos 80 e sendo relembrado com carinho até hoje (ao contrário de Tower of Druaga e Dragon Slayer).
O título ajudou a fundamentar o que o público conhecia na época como hack and slash. Golden Axe pegou emprestado o estilo beat ‘em up de Double Dragon, que estava a todo vapor nos arcades, e adicionou o combate com armas brancas, consolidando o principal elemento do gênero.
Diablo traz uma nova perspectiva ao hack and slash
Muitos anos mais tarde, mais exatamente em 1997, o hack and slash passaria por outra grande mudança. Dessa vez, o emergente e popular Diablo, da Blizzard, deu uma cara nova ao gênero nos PCs, apesar de não ser necessariamente o primeiro jogo com elementos de hack and slash em visão isométrica.
O destaque vai para as hordas de inimigos e ação constante dentro de masmorras geradas aleatoriamente. Diablo incorporou o hack and slash no RPG de ação e dungeon crawler muito bem, apesar de nem todas as classes trazerem corpo-a-corpo. Outros pilares do gênero presentes na obra da Blizzard são o looting, onde o jogador acha e equipamentos constantemente como espadas, machados e outras armas, e a progressão das habilidades, através de uma árvore de habilidade.
Diablo II, lançado anos mais tarde, refinou todos os pontos do primeiro jogo, transformando a nova propriedade em um clássico cult, que até ganhou uma reimaginação em 2021.

Hack and slash na era 3D
Quando o hack and slash explodiu em popularidade com o primeiro Diablo e sua perspectiva isométrica, o 3D já era uma tecnologia consolidada na indústria. Antes do ARPG da Blizzard, vimos várias experiências tridimensionais, com destaque para o “Mode 7“, que simulava gráficos 3D no Super Nintendo.
Porém, o primeiro hack and slash em 3D, ou quase isso, foi o RPG Getsu Fuma Den da Konami, lançado em 1987 para o NES. O jogo se revezava entre gameplay em plataforma 2D e seções em labirintos em pseudo-3D, muito comum em jogos de RPG de turnos que tentavam simular uma aventura em três dimensões.
Assim como Tower of Druaga, Getsu Fuma Den não foi nem de longe o hack and slash mais famoso, e provavelmente não inspirou tantos jogos do gênero assim.
Teríamos uma representação mais relevante de hack and slash na era 3D lá nos anos 2000 com o lançamento de Dynasty Warriors 2, sequência que abandonou o estilo de jogo de luta do primeiro game da franquia e adotou combate contra hordas massivas de inimigos.
A mudança fez tanto sucesso que, sem querer, Dynasty Warriors 2 inaugurou o subgênero musou, que claramente carrega elementos de hack and slash.
A era moderna do hack and slash
Como falamos no início, o hack and slash é conhecido principalmente pelos jogos 3D, que de fato elevaram o estilo à categoria de subgênero.

Assim como Dynasty Warriors 2, Devil May Cry, de 2001, acabou revolucionando o estilo sem querer. O jogo começou inicialmente como um conceito de Resident Evil 4 para PlayStation 2, sob o comando de ninguém menos que Hideki Kamiya, que viria a contribuir com o subgênero no futuro.
O protótipo do que seria Resident Evil 4 foi considerado muito distante da fórmula de survival horror da Capcom e, em vez de ser cancelado, o projeto seguiu de forma paralela, dando origem à franquia Devil May Cry.
Nos anos seguintes veríamos jogos como God of War, de 2005, um dos mais populares de todos os tempos e que também teve uma enorme contribuição com o subgênero. Kamiya atacaria novamente após deixar a Capcom e lançar Bayonetta em 2009 (pela PlatinumGames) para Xbox 360 e PlayStation 3.
Todos esses três jogos até hoje são considerados bastiões do estilo hack and slash e suas principais contribuições foram a criação de combos, sistemas de ranking de estilo, que concedem bônus aos jogadores, além de uma narrativa cinematográfica e cheia de ação.
Apesar do foco hack and slash ser totalmente em combate, a narrativa apresentada por esses três jogos mostra que era possível criar um jogo do subgênero que abraçasse os dois elementos.
A exploração e os puzzles também foram partes importantes desses jogos, garantindo não só a progressão na história, como também em armas e habilidades. Basicamente, tudo que vemos após esses três jogos são inspirados nele de alguma forma.
Alguns exemplos de jogos do estilo são: Dante’s Inferno, Nier Automata, Hades, Scarlet Nexus e Code Vein.
Essa influência se estende até os dias de hoje, como Hi-Fi RUSH, jogo lançado pelo Xbox Game Studios em 2023 e que trouxe o combate de Devil May Cry com mecânicas de ritmo.
Apesar de muito bem representado, o gênero hack and slash foi, aos poucos, perdendo espaço, assim como os beat ‘em ups, que tiveram dificuldade de adaptação na era 3D. Parte dessa queda de popularidade pode ser atribuída ao gênero soulslike, que, diferente do hack and slash, é mais cadenciado e não prioriza a ação frenética, embora também tenha foco no combate corpo a corpo.
Jogos hack and slash lendários
De Tower of Druaga até os títulos mais recentes, citamos dezenas de jogos que explicam a evolução do hack and slash ao longo dos anos. Pensando naqueles que marcaram o estilo para sempre, confira nossa lista com os principais games do gênero na história. Vale ressaltar que não se trata de um ranking do melhor para o pior. Os jogos estão organizados pelo ano de lançamento.
9. God of War II (2007)
Ao lado de Devil May Cry, God of War foi um dos pilares que definiram o hack and slash na era moderna. Seu principal feito foi unir combate visceral a uma narrativa bem construída e personagens cativantes, incluindo a criação de um dos personagens mais icônicos do PlayStation: Kratos.
Apesar de seguir a mesma base de jogabilidade do jogo anterior, incluindo Quick Time Events, puzzles, exploração e progressão, escolhemos God of War II como representante da franquia protagonizada por Kratos (até o momento). O título é até hoje celebrado não apenas como um dos melhores hack and slash já feitos, mas também como um dos maiores lançamentos do PlayStation 2.

God of War II expande o que vimos no jogo original, trazendo ainda mais brutalidade e aprofundando na narrativa mitológica.
8. Bayonetta (2009)
Hideki Kamiya foi um dos maiores contribuidores para o subgênero do hack and slash, trazendo ao mundo Devil May Cry e Bayonetta, outro jogo que deixou sua marca na geração do PlayStation 3 e Xbox 360.
Bayonetta é bem conhecido por sua ação frenética, habilidades e personagens excêntricos e únicos, se destacando também por seu combate estilizado. Aqui acompanhamos Bayonetta, a última remanescente de uma linhagem de bruxas poderosas e tem como missão buscar o equilíbrio entre a luz e as trevas.

7. Darksiders (2010)
Apesar de ser um pouco menos conhecido que os demais jogos da lista, Darksiders é sempre relembrado pelos fãs de hack and slash. O primeiro jogo da franquia traz muito do que vimos anteriormente, principalmente com God of War, apesar de haver certa resistência em comparar ambos.
Na verdade, Darksiders é comparado com tantos outros jogos, como The Legend of Zelda e até Portal, que fica difícil fazer essa ponte com outros títulos.

De qualquer maneira, o jogo segue os padrões estabelecidos pelos hack and slash anteriores, trazendo muitos elementos de puzzle, plataforma, ênfase em exploração e até dungeon crawler. Outros pontos em que Darksiders se destaca são sua arte e design do mundo.
6. Dante’s Inferno (2010)
Dos criadores de Dead Space, Dante’s Inferno até hoje é bem popular no subgênero. Este título pode ser considerado um exemplo clássico do hack and slash 3D, com claras semelhanças a God of War.
Dante’s Inferno conta com tudo de bom e de melhor do subgênero, com hordas de inimigos e ação visceral frenética. O jogo é baseado no poema A Divina Comédia, de Dante Alighieri, onde o autor explora o inferno, o paraíso e o purgatório, descrevendo tudo o que vê e como esses lugares são divididos.
No game, Dante’s Inferno segue o velho estereótipo de ‘salvar a princesa’, onde controlamos um guerreiro das Cruzadas morto em campo de batalha que desafia a morte e tenta resgatar sua amada das mãos de Lúcifer.

5. Metal Gear Rising: Revengeance (2013)
Metal Gear Rising: Revengeance é um spin-off da franquia Metal Gear que se passa quatro anos após os eventos de Metal Gear Solid 4: Guns of the Patriots. O título foi produzido em uma parceria entre a PlatinumGames e a Kojima Productions, na época um estúdio interno da Konami.
O jogo se destaca pela sua ação frenética e combate hack and slash, com destaque para a mecânica “Blade Mode”, que permite executar cortes precisos e satisfatórios nos inimigos. Como Devil May Cry, Metal Gear Rising: Revengeance também conta com um ranking que avalia os jogadores em certos níveis. A progressão do personagem também envolve coletar itens (looting), derrotar inimigos e passar por esses níveis.

4. NieR: Automata (2017)
O RPG de ação e o hack and slash, que são bem próximos, mas não são a mesma coisa, acabam se encontrando em NieR: Automata, publicado em 2017 pela Square Enix. A PlatinumGames volta a fazer uma aparição no gênero, consolidando-se como uma das desenvolvedoras mais competentes quando o assunto é hack and slash.
NieR: Automata aposta em um combate com ataques leves e pesados ambientado em um mundo pós-apocalíptico num futuro distante invadido por máquinas extraterrestres.

3. Devil May Cry V (2019)
Chegou a hora de falar na franquia mais influente do hack and slash de todos os tempos. Como contamos anteriormente, o primeiro Devil May Cry foi um verdadeiro divisor de águas, inspirando jogos até hoje.
Devil May Cry V foi dirigido por Hideaki Itsuno, desenvolvedor da Capcom há mais de 30 anos, até deixa a companhia em 2024.
A jogabilidade, que se alterna entre os três personagens principais — Dante, Nero e o estreante V —, segue o que vimos anteriormente na série, com ação estilizada e frenética contra hordas de demônios, além de ideias excêntricas. Devil May Cry V dá bastante destaque às armas dos personagens e também é bem conhecido pela excelente trilha sonora.

2. Scarlet Nexus (2021)
Scarlet Nexus é outro jogo de RPG que acaba incorporando elementos de hack and slash em seu combate. O jogo traz uma ação frenética e uma tela que pode ficar bem poluída de inimigos.
O jogo sci-fi também acaba trazendo algumas características não tão comuns do subgênero, como arremessar objetos do cenário com telecinese.

1. Hi-Fi RUSH (2023)
Um dos exemplos mais criativos e recentes do subgênero, Hi-Fi RUSH combina o combate hack and slash inspirado em Devil May Cry com um gênero incomum para jogos de ação: o ritmo.
Quanto mais os jogadores acertam golpes corpo a corpo nos inimigos no ritmo, mais fortes os golpes vão ficando e maior o ranking que o jogador conquista. A jogabilidade é ainda mais recompensadora graças aos combos estilizados e finalizações com outros personagens, que são extremamente bem animados.

O que esperar dos jogos hack and slash no futuro?
O hack and slash definitivamente fez parte da vida de todos os jogadores, principalmente na geração do PlayStation 2 e PS3/Xbox 360, onde verdadeiras obras-primas foram lançadas e se consolidaram como ícones.
Apesar de todo esse peso na época, os jogos com hack and slash como o foco principal do combate estão cada vez mais raros e são constantemente engolidos por outros gêneros.
Embora tenha perdido parte da popularidade frente a estilos emergentes como os RPGs de ação e os soulslikes, os hack and slash continuam recebendo títulos criativos.

Muitos jogos modernos inovam ao misturar o estilo com outros gêneros, como quebra-cabeças, elementos de ritmo ou exploração. Essa flexibilidade mostra como o formato ainda pode surpreender, mesmo décadas após seu surgimento.
Desenvolvedoras como a PlatinumGames, um dos principais estúdios de hack and slash moderno, continuam ativas. Além disso, a expectativa por títulos como o recém-anunciado Ninja Gaiden 4 promete ainda mais para o estilo e uma renovação na indústria após uma verdadeira chuva de jogos soulslike.
Portanto, não vivemos nem de longe a extinção desse amado subgênero. Esmagar botões com ação frenética e armas brancas continua sendo um deleite para muitos jogadores.
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