Cientistas descobrem novo tipo sanguíneo que só existe em uma mulher
Entender os tipos sanguíneos é relativamente fácil: o sistema de classificação ABO é baseado em alguns antígenos chamados aglutinogênios, estruturas que ficam na superfície das hemácias e são reconhecidas pelo sistema imunológico do corpo. Quem tem o tipo A possuí o antígeno A, o B possuí só o B e o AB possuí ambos; o tipo O não apresenta nenhum desses antígenos. Para completar, há o fator Rh, que divide o sangue entre positivo (+) e negativo (-). Esses dois sistemas juntos formam oito tipos sanguíneos diferentes, como AB+ ou O-. Tranquilo, certo? Errado.
Esses são os dois sistemas básicos para classificar o sangue, que todo mundo aprende na escola e sabe responder para alguma emergência. Mas estão longe de ser os únicos jeitos de classificar o sangue: existem vários outros sistemas, muito mais raros, baseados na presença ou ausência de diversos outros antígenos. Um novo grupo de sangue acabou de ser descoberto em uma única mulher em Guadalupe, território ultramarino da França no Caribe.
O “Gwada negativo”, como foi apelidado em referência a um nome local para as ilhas de Guadalupe, é o 48º sistema sanguíneo a ser descoberto pela ciência, junto de vários outros sistemas raros. A única pessoa a ter o sangue desse tipo é uma mulher de 68 anos.
Os pesquisadores que descobriram o novo sistema sanguíneo conheceram a mulher em 2011, quando ela estava morando em Paris e se preparando para uma cirurgia. Os exames de rotina do pré-operatório não conseguiram identificar seu tipo sanguíneo ou nenhum outro compatível. Eles precisaram esperar oito anos para que novas técnicas de análise conseguissem identificar o tipo sanguíneo da senhora.
A descoberta foi divulgada pelo Estabelecimento de Sangue Francês, e divulgada para a comunidade científica no começo de junho durante o Congresso da Sociedade Internacional de Transfusão de Sangue, em Milão, na Itália.
Sangue bom
Em 2019, os pesquisadores envolvidos na descoberta usaram uma análise de sequenciamento genético de alto rendimento para estudar o sangue da mulher de Guadalupe. Esse método permite uma análise rápida e aprofundada do DNA da paciente. Dois anos de trabalho foram necessários para sequenciar o genoma completo dela e tentar entender esse sangue enigmático.
Depois do sequenciamento do genoma, os cientistas conseguiram identificar uma mutação no gene PIGZ, que altera como as proteínas se penduram na superfície das células sanguíneas. Essa mutação única no gene da mulher de Guadalupe significa que, pelo menos por enquanto, ela é a única pessoa conhecida no mundo que tem o sangue compatível com ela mesma.
Compatibilidade é essencial na conversa sobre tipos sanguíneos. No caso do sistema tradicional ABO, uma pessoa com sangue AB pode receber uma transfusão de qualquer pessoa, porque seu corpo vai reconhecer todos os antígenos como familiares. Para uma pessoa com tipo O, as opções são mais limitadas: só dá para receber doações de pessoas que também tem o tipo O, sem os antígenos A e B.
Sistemas raros, como o Gwada negativo da mulher de Guadalupe, também podem atrapalhar uma transfusão de sangue. Se essa senhora precisar de uma transfusão agora, por enquanto a ciência não sabe de ninguém que poderia doar sangue para ela. Em outros casos de tipos sanguíneos raros, como nesse explicado pela Super, os cientistas até conseguiram encontrar mais pessoas com o sangue parecido. Por enquanto, não tiveram a mesma sorte com o 48º sistema conhecido.
O próximo passo para os pesquisadores é começar a procurar por mais pessoas que fazem parte desse grupo raro de sangue. Tipos sanguíneos são genéticos, então a melhor forma de encontrar pessoas compatíveis com a mulher de Guadalupe é procurando entre os doadores de sangue de Guadalupe.
Encontrar essas pessoas não é só uma questão de curiosidade científica, mas de poder tratar melhor os pacientes com tipos sanguíneos diferentes.
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