IA é uma nova espécie e é preciso interagir, diz Neil Redding no Universo TOTVS
A inteligência artificial (IA) não é apenas uma tecnologia, ela é uma “nova espécie” com a qual os negócios precisam estabelecer uma relação de simbiose. Essa foi a visão apresentada por Neil Redding, futurista e arquiteto de inovação, durante a palestra, que ocorreu no segundo dia do Universo TOTVS 2025, nesta quarta-feira (18), no Expo Center Norte, em São Paulo (SP).
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Redding, uma voz influente com mais de 30 anos de atuação no futuro emergente, reforçou a ideia, já compartilhada em eventos como o SXSW 2025: “a IA é uma nova espécie e é preciso interagir com ela”. Ele iniciou sua fala destacando a necessidade de adaptação em tempo real para as empresas.
O futurista mencionou variáveis como “as condições de mercado, os custos, os preços, o clima, a pandemia, o ciclo de notícias e, claro, a própria tecnologia”. Contudo, ressaltou que a essência humana e suas necessidades mudam lentamente.
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Para Redding, os negócios devem estar alinhados com as pessoas e, fundamentalmente, com os “ecossistemas naturais”, pois “a humanidade está despertando para ver tudo como conectado”. Essa visão de ecossistema é central para o trabalho do autor de “The Ecosystem Paradigm”.
“A participação é a chave para os humanos, individualmente e em equipes, para nosso bem-estar e senso de pertencimento”, continuou Redding. “E acontece que a participação é a chave para a IA em nossas equipes, em nossos fluxos de trabalho, em nossos negócios, para maximizar o potencial total da IA, para desbloqueá-la, assim como a nós mesmos”, explicou.
Entretanto, uma nova espécie também pode se comportar de forma invasiva. “Isso me lembra das ‘big techs’, anunciando cortes em massa de engenheiros de nível médio conforme a IA chega para substituí-los. Isso está acontecendo este ano”, alertou o futurista.
Ele também comparou os algoritmos de redes sociais a “espécies parasitas”, que “danificam ou até matam o hospedeiro enquanto florescem”, “colhendo a atenção humana em detrimento ou até mesmo a zumbificação do hospedeiro [humano]”.

Estágios da IA: do prompt à iniciativa
Redding traçou uma progressão de cinco estágios na evolução da IA. Ele acredita ser crucial entender essa “nova espécie”:
- Prompt: neste estágio inicial, a IA “fica lá, esperando que um humano a incite a fazer algo”. Isso ocorre principalmente por texto, mas o uso de voz e imagem como entrada está cada vez mais comum;
- Participar: a IA começa a interagir de forma mais ativa, oferecendo suporte na análise e melhoria de projetos. Redding enfatizou este como o “ponto ideal” atual da evolução;
- Delegar: nesta fase, a IA assume tarefas e briefings, executando-os de forma mais autônoma. Segundo Redding, empresas como OpenAI e Anthropic já introduziram agentes capazes de usar um computador e a nuvem, indicando uma crescente capacidade de delegar responsabilidades à IA;
- Iniciar: quando a IA começa a tomar ações por conta própria, expandindo cada vez mais sua atuação para o mundo físico;
- Simbiose: a fase final, em que a IA não apenas interage e executa, mas se integra profundamente aos processos. Beneficia humanos e tecnologia e evolui em conjunto para um futuro mais próspero.
Redding descreveu um futuro em que os sistemas de gestão empresarial (ERP) se tornarão “povoados por agentes” de IA. Eles vão colaborar para “resolver dinamicamente desequilíbrios no fornecimento, preços, contratos e assim por diante, antes que se tornem problemas”.
Para o autor, isso não é apenas automação, mas “participação a serviço da simbiose, um sistema vivo em evolução, resolvendo problemas no seu negócio”. O ERP do futuro, segundo Redding, será visto como “ecossistemas de participação de recursos”.
Durante a palestra, o futurista demonstrou seus próprios experimentos diários com aplicações de pesquisa aprofundada. Ele também mostrou exemplos de agentes de IA, principalmente utilizando o ChatGPT.
Um dos exemplos foi o reconhecimento de seu escritório e de seus óculos de realidade estendida por um agente de IA que reconhece imagens em tempo real. “Conforme a IA fica boa em reconhecer e interagir com o mundo físico, há todos os tipos de casos de uso empolgantes que temos imaginado por muitos anos”, comentou.
A apresentação do CEO da Nvidia, Jensen Huang, sobre o avanço da “IA física” aplicada a robôs logísticos, humanoides e veículos, também foi citada. Redding a vê como um caminho da evolução desta nova espécie, fora do mundo digital. A “IA incorporada” já é estudada por gigantes de tecnologia.

Adoção em baixa nas empresas
Apesar do otimismo, Redding não deixou de lado a realidade atual da adoção da IA. Ele citou que “apenas 6% das empresas usam IA em suas operações principais“. Este número contrasta com o uso diário de ferramentas como o ChatGPT pela maioria das pessoas.
Ele enfatizou a urgência, mencionando Peter Diamandis: “Existem dois tipos de empresas até o final desta década, que está a apenas cinco anos de distância, dois tipos: aquelas que estão utilizando a IA plenamente e aquelas que estão fora do mercado”.
Essa percepção de Redding ecoa a visão de Gustavo Avelar, vice-presidente de Produto e Inovação da RD Station. Em conversa com o Canaltech, Avelar destacou que, embora “os próprios avanços do ChatGPT [e] os próprios avanços dos grandes algoritmos de LLM ainda estejam muito focados em uma interação com o público final para uso pessoal”, o real impacto nas empresas, como o ganho de produtividade em times de desenvolvimento de software, já é evidente.
No entanto, ele pondera que “a conexão da IA para resolver problemas reais dos nossos clientes ainda está um pouco distante”.
Avelar corrobora a dificuldade de escalar soluções de IA nas empresas. “Pilotar é fácil, colocar em escala é difícil”, afirmou. Ressaltou que há “muita discussão de segurança de dados, de governança, de tudo orquestrado, que a gente ainda está engatinhando”.
Ele detalhou a estratégia da TOTVS para o futuro: antes de implementar agentes, a empresa foca em níveis de “IA em produto” e “copilotos”. O objetivo é transformar o usuário em um “superusuário” e automatizar partes da operação.
Avelar também citou exemplos práticos de IA já embarcada nos produtos da TOTVS, como ferramentas de geração de conteúdo e sugestão de melhores canais de comunicação, além do uso de assistentes por voz para vendedores em campo.

A visão de Redding de que “a orquestração impulsionada pela IA está substituindo as estruturas de liderança tradicionais” e que “não deve demorar muito para que agentes de IA sejam nossos novos colegas de trabalho” encontra ressonância nos planos da TOTVS.
A empresa, segundo Avelar, tem como um de seus próximos passos a implementação de “agentes” capazes de atuar em “substituição completa” de algumas tarefas. Isso indica um futuro onde haverá “gestores de equipes de IA” e empresas “completamente automatizadas com agentes”.
Redding desafiou os executivos, afirmando que muitos se sentem “estagnados”, esperando que consultorias “mostrem o caminho”. Para ele, é crucial que os líderes “conheçam e entendam a IA” para administrar um negócio que tenha o recurso como base. Ele apontou três ações práticas que CEOs deveriam tomar agora:
- Investir em IA de alto impacto, focando em geradores de receita.
- Atualizar dados e infraestrutura, desenvolvendo talentos e cultura em IA.
- Impulsionar a adoção de IA com urgência, tornando-a uma prioridade do conselho.
“A realidade é participativa”, concluiu Neil Redding, reforçando que somos “cocriados por meio da participação e a tecnologia participa conosco”. Ele finalizou destacando que a participação de todos no trabalho com a IA não é apenas um imperativo empresarial, mas “um imperativo de amor à humanidade”. Afinal, “temos que fazer a simbiose com a IA porque o que a IA quer é, claramente, tudo”.
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