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Curiosidades

Quem foi Niède Guidon, arqueóloga que desafiou hipótese de ocupação das Américas

Os integrantes da cultura Clóvis viveram na região do Novo México, nos Estados Unidos, há cerca de 13 mil anos. Seus artefatos, pedras pontudas e afiadas conhecidas como “pontas de Clóvis”, foram por muito tempo considerados os primeiros vestígios de ocupação humana das Américas.

Quase todos os arqueólogos do século 20 concordavam que os primeiros Homo sapiens no continente americano foram os integrantes da cultura Clóvis, e devem ter chegado pelo estreito de Bering numa época em que o nível do mar entre a Sibéria e o Alasca estava tão baixo que as pessoas poderiam fazer a travessia a pé. A hipótese era extremamente popular – até chegar Niède Guidon.

Nascida em Jaú, no interior de São Paulo, a arqueóloga brasileira formada pela Universidade de São Paulo (USP) e doutora pela Universidade de Paris revolucionou a arqueologia produzida no continente americano ao questionar a teoria de Clóvis e divulgar evidências de que já havia seres humanos no  Brasil há pelo menos 60 mil anos.

Guidon faleceu na madrugada desta quarta-feira (4), aos 92 anos. O comunicado veio do Museu do Homem Americano, que ela fundou em São Raimundo Nonato, no Piauí. Lá, a arqueóloga lutou por anos para proteger o Parque Nacional da Serra da Capivara, onde estudou pinturas rupestres que mudaram como se conta a história da ocupação das Américas.

Por muito tempo, Guidon fez seu trabalho sem reconhecimento dos grandes centros de pesquisa científica, especialmente dos Estados Unidos. O ceticismo da comunidade arqueológica internacional – que, no século 20, era majoritariamente um clube do bolinha – está mudando lentamente nas últimas duas décadas, ao passo que as evidências começam a se amontoar do lado da cientista brasileira.

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Reescrevendo a história

Em 1963, o Museu Paulista da USP – hoje conhecido como Museu do Ipiranga –, recebeu uma exposição sobre pinturas rupestres de Lagoa Santa, em Minas Gerais. Foi nesse evento que a jovem arqueóloga Niède Guidon, que trabalhava no museu, soube de alguns “desenhos de índio” no interior do Piauí. Ela até tentou chegar ao lugar num Fusca, mas o acesso era muito complicado.

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No ano seguinte, Guidon precisou sair do país por causa do golpe militar e foi para a França. Ela só voltou ao Brasil em 1970, para fazer pesquisa com algumas comunidades indígenas no Goiás. Na mesma época, ela conseguiu visitar as pinturas rupestres do Piauí, e descobriu algo radicalmente diferente dos outros padrões de arte rupestre conhecidos e catalogados no Brasil.

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Com ajuda do governo francês, ela organizou uma missão de pesquisa em 1973 para São Raimundo Nonato, a 530 km de distância de Teresina. Na época, ela era professora na Escola de Estudos Avançados em Ciências, em Paris. Além de pinturas rupestres, ela encontrou artefatos e até esqueletos na área que virou, em 1979, o Parque Nacional da Serra da Capivara.

Guidon catalogou 1.354 sítios arqueológicos e 35 mil pinturas rupestres na área de 130 mil hectares do Parque Nacional, que já foi tema de reportagem da Super. Hoje em dia, cerca de 2o0 deles podem receber visitantes. Foi por causa dessa região que a arqueóloga defendeu que a ocupação das Américas aconteceu bem antes de 13 mil anos atrás.

Em 1986, ela publicou suas descobertas na prestigiada revista Nature, na qual argumentava que já havia Homo sapiens na América do Sul há pelo menos 32 mil anos. Nos anos seguintes, ela chegou a encontrar ferramentas de pedra lascada que podem ter 100 mil anos. Nas últimas décadas, mais cientistas começaram a concordar com a tese antes desacreditada de Guidon, que recebeu muitas críticas de arqueólogos convencidos da teoria de Clóvis.

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Hoje, já se conhecem vestígios de ocupação humana em Monte Verde, no Chile, que datam de 15 mil anos atrás. Atualmente, evidências genéticas e arqueológicas mostram que a cultura Clóvis não foi a primeira a entrar na América – e nem a única. Cientistas concordam que muito provavelmente houve mais de uma onda migratória para o continente, possivelmente pelo mar.

A hipótese de Guidon ainda não é totalmente aceita na comunidade científica – afinal, 15 mil para 100 mil anos é um salto grande. É possível, por exemplo, que os vestígios super antigos encontrados na América tenham sido produzidos por outros primatas. Não há consenso sobre o tema.

De toda forma, a arqueóloga foi pioneira em desafiar a teoria dominante. Hoje, é mais plausível aceitar evidências de 23 mil anos, como as que já foram encontradas no Novo México. Uma possível explicação para isso é que os humanos tenham entrado na América em diferentes momentos da história, sem necessariamente povoar o continente.

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Niède Guidon dedicou sua vida à ciência e ao Parque Nacional da Serra da Capivara, trabalhando por décadas para proteger a área rica em natureza e história da destruição ambiental. Desde 1991, a região faz parte da lista de Patrimônio da Humanidade da Unesco, e só continua de pé por causa dos anos de luta e persistência da cientista. Não contente em reescrever o passado das Américas, Guidon transformou o presente da ignorada cidade de São Raimundo Nonato e apontou o futuro da arqueologia.

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augustopjulio

Sou Augusto de Paula Júlio, idealizador do Tenis Portal e do Curiosidades Online, tenista nas horas vagas, escritor amador e empreendedor digital. Mais informações em: https://www.augustojulio.com.